domingo, 31 de julho de 2011

Estou ficando velho.


Estou ficando velho. Outro dia estava no shopping, achei aquilo muito chato. Para assistir um filme, se paga com cartão, de tão caro que é. Para comer um simples sanduiche, se pega duas filas. Quando, finalmente, você se senta e olha ao seu redor, você se assusta com tantos anúncios e propagandas dos mais variados produtos e, o pior, tanta gente comprando.

Não pode estar correto esse consumismo desenfreado, esse modo de viver se deixando levar pela propaganda. Comprar sem precisar: é o resultado de nossas carências, é o modo de nos satisfazermos, não pelo que se compra, o produto em si, mas pelo simples prazer de comprar.

No consumismo, o comprador se apropria do bem para o seu uso particular, mas fica alheio àquilo que foi comprado. Eles enchem as lojas, são milhares de pessoas com suas sacolas coloridas, cheias de pacotes. São tantos sorrisos, que me pergunto se isso é real ou somente aparência. Talvez algum momento de alegria, de exaltação e de inebriamento, mas que, certamente, não trazem a verdadeira alegria de viver. Essas pessoas, parecem a mim, que não têm pressa de saírem do shopping e voltarem para suas casas.

Estou ficando velho. Outro dia estava na Igreja, achei as pessoas, talvez as mesmas, com caras cansadas, rostos trancados, sem paciência de ouvirem uma homilia. Acho que o produto oferecido não era muito atrativo porque o consumidor da Palavra não podia se apropriar dela para uso privado, mas tinha que se deixar ser assimilado por ela e reparti-la com as outras pessoas. Assimilar e partilhar não fazem parte da natureza do consumismo.

O consumidor da hóstia Sagrada não pode ficar indiferente ao que se consome, pois ele se torna membro do Corpo de Cristo.

Esse mistério deveria introduzir uma nova maneira de nós percebermos a sociedade, vivendo uma “vida em abundância” fora das fantasias, uma felicidade que não nasce na “areia” do shopping, mas, como diz Jesus, na rocha sólida de sua Palavra.


sábado, 30 de julho de 2011

Um curral cheio de bosta de vaca.


Você, que nesta manhã de domingo está lendo esse blog e tomando seu café, espero que deguste (prefiro beba) bem devagarzinho (prefiro devagarinho), saboreando cada gole.

Tenha um bom dia.

A cada gole de café leia uma frase, qualquer uma, não tem uma lógica e nem uma cronologia, são soltas e livres como éramos nós naqule tempo.

Tempo que a terra molhada trazia cheiro, que o céu apresentava estrelas e que galinhas não tinham hormônios.

Tempo que chupávamos laranja, manga, tangerina, pitomba no próprio “pé” e pisávamos em bosta de vaca, brincávamos na bagaceira e banhávamos no olho d’água.

Tempo de chuvas fortes, com trovões assustadores e relâmpagos que, vindos das janelas e da cumeeira, clareavam nossos quartos, onde dormíamos encolhidos em redes espalhadas pela casa grande.

Era tão bom.

Era...
Uma serra cheia de chuva.

Uma mata cheia de verde.

Um curral cheio de bosta de vaca.

Um casal cheio de filhos.

Um homem cheio de trabalho.

Uma mulher cheia de amor.

Uma filharada cheia de vida.

Um fogão a lenha cheio de bocas.

Uma casa cheia de redes.

Um alpendre cheio de gente.

Um caçoar cheio de laranjas.

Um terreiro cheio de galinhas.

Uma família cheia de felicidade.

Uns filhos cheios de sonhos.

Era tão bom.



sexta-feira, 29 de julho de 2011

Hoje só dói o pé... e só um pouquinho...


Certo dia encontrei na rua, bem cedo, um rapaz que de braços abertos e sorriso largo cantava alto: "sinto você bem perto de mim outra vez”.

Pura alegria.

Não sei o que o deixava tão feliz, mas seja lá o que for, contagiava a todos que ficaram sensíveis a uma felicidade tão palpável. Esta generosidade, este despudor de compartilhar uma imensa alegria me acompanhou o dia inteiro.

A gente é tão acostumada a só demonstrar sentimentos na intimidade, que se esquece de quanto bem pode fazer partilhar com mais pessoas a nossa alegria. Essa alegria que muitas vezes quer gritar, extravasar, chutar lata, dançar na chuva. E como se tem razões para sorrir, para ficar feliz, para ser alegre. E como são simples os motivos para se alegrar:

·        Tomar um café, absorta, olhando para o nada.

·        Sentir a terra molhada nos pés descalços, o cheiro da grama cortada, a chuva fina no rosto.

·        O dia amanhecendo, as pessoas começando o dia vagarosamente, a brisa suave, o ruído e canto dos passarinhos.

·        A varanda da casa da Altair (Plenário da 83), onde se conversa muuuuuita besteira e onde sempre cabe mais um.

·        Os netos... Brincar com eles, ouvir suas opiniões brotando adaptando-se à vida, o crescimento físico e emocional.

·        Assistir Law e Ordem.

·        Escrever recordações e desabafos para Mel com Farinha e...esperar suas novidades.

·        Constatar que hoje só dói o pé... e só um pouquinho.

·        Ver todos à mesa falando ao mesmo tempo querendo ser ouvido, partilhar o que  considera interessante.

·        Comer pão com glúten, café normal, leite e açúcar, desafiando a diabete.

São tantas pequenas coisas que me dão alegria, mas que no dia a dia passam batidas, pressionadas pelo relógio, pelos compromissos, pelo que acho, às vezes, mais importantes que uma boa gargalhada, um fazer nada. Preciso ver os insetos, as flores, o céu, as pessoas, ficar mais alegre, mais disponível, cantarolar mais o Vinicius:

"é melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe".

Boas gargalhadas para todos.
 
Ana Lucia Lino
 
Obs.: Gostaria de dizer que o “Mel com Farinha” suplantou esta semana. Gostei muito da Anaires, estou pedindo emprestado o artigo sobre Eucaristia para levá-lo à Legião, acertei todas do Teté e o Arino me surpreende com o lirismo. Estou orgulhosa desse blog.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vida Vivida


O
lho para trás e vejo a Soledade. Sinto uma felicidade enorme, porque ela é parte da minha história, da minha vida. Época do apogeu da minha infância e da minha juventude.

Sinto ouvir a voz da mamãe chamando a todos para o banho. Isto significava uma correria para o olho d'água. Este nos deliciava com sua aguinha fria, cristalina. Ela por sua vez supervisionava: orelhas, pescoço e arrumava a todos nós.

Depois, reuníamos ao redor daquela mesa de madeira rústica. Era um jantar farto, tendo como prato principal uma deliciosa e suculenta sopa de feijão.

Agora era a vez do alpendre. Era um hábito de família, todas as noites, sentávamos em cadeiras, tamboretes, troncos de árvore. Todos ao redor do papai e da mamãe.

Naquele ambiente de amor filial e fraterno, brotava felicidade. Juntavam-se a nós os vizinhos: seu Manuel Morais, Antonio Morais, seu Domingos para falar, perguntar e ouvir, enfim trocar idéias sobre lavoura, contar "causos".

Todos tirávamos um "dedinho de prosa", dentro de um papo harmonioso. Pois, ainda não se discutia política, religião e futebol.

Tudo era muito eclético, tínhamos também a hora do "show musical" . Era momento mágico, onde até a natureza, não se fazendo de rogada, juntava-se a nós, nos presenteando com um luar lindo, o canto da cigarra, do grilo e o pisca-pisca do vagalume.

Não se pode esquecer o berimbau do Chico Moraes, repartindo emoções e encantamento, acompanhado pela bela voz da Aglair. Sim, era uma voz pura, envolvente, afinada e melodiosa. Arrancava aplausos de todos os que compartilhavam daquele momento aconchegante. Para nós era um fenômeno, considerando que voz e musicalidade não é bem o forte de nossa família. Por isso, apreciávamos muito sua técnica e afinação.

Para confirmar esta nossa pouca tendência para a música basta lembrar: o Airles, que depois de meses de treinamento, não passou do  no seu realejo. E o violão da Anaíres? Nunca soubemos no que deu, ou melhor soubemos: em nada. Eu fui reprovado no canto pela "cabrita engasgada", porém isto vai render outra história. O certo é que a Aglair foi a única a possuir este dote musical.

Terminada esta programação, era hora de dormir. Recolhíamos em nossos aposentos e daí começava a "ladainha": “abenção” papai, “abenção” mamãe. E a resposta infalivelmente pronta: Deus te abençoe.

Deus os ouviu.
                                    
A r i n o 

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Adivinhem quem for capaz (Final)

Ela é muito econômica
não gasta um real em vão
mas toda semana leva
50 centavos de pão.

Ela entra em depressão
e lhe despenca o astral
se ela for obrigada
a gastar mais um real.

Tem ainda alguns "penetras"
que entram na discussão,
frequentam a 83
por pura admiração.

Quem tiver mais acerto
é assim o ganhador,
o Mel com Farinha
é nosso patrocinador.

O prêmio tem alternativa,
o vencedor pode escolher,
não se sabe se a opção
seria melhor perder.

Um seria um coffee break
pela Altair ofertado:
com pão dormido
e café requentado.

Outro seria uma torta
dada pela Neném, urgente,
mas aí "gato escaldado
tem medo de água quente".

Fica lançado o desafio,
que vai aqui terminar,
desculpem a "xaropada"
é só pro blog cooperar.

Digam qualquer "besteira",
não deixem de escrever,
só assim é possível
o blog sobreviver.

Entrou pelo bico do pinto,
saiu pelo fundo pato,
se alguém se ofendeu,
desculpe pelo mau trato.

 Zé do Lino 

terça-feira, 26 de julho de 2011

“Comungar é tornar-se um perigo”


A

 música hoje na comunhão dizia que: “É Jesus este pão de igualdade, viemos pra comungar. Com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez, lugar. Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar, com a fé e união, nossos passos um dia vão chegar”.
Não era a primeira vez que ouvia essa música, mas fiquei o dia inteiro com a letra na cabeça: “Comungar é tornar-se um perigo”.
Que Pão é esse que nos torna um perigo?
Nessa mesma manhã fui à 83. No momento que estávamos comendo o cuscuz, vi que cada de nós pegava a sua parte e comia. Percebi que aquela, como qualquer outra alimentação, era necessária para que pudéssemos manter as funções vitais do nosso organismo, o qual precisava obter e assimilar alimentos.
Esse alimento corporal, diferente do Pão Eucarístico, era assimilado por nosso organismo e cada um de nós, naquela mesa, absorvia o mesmo alimento sem perder a sua individualidade.
Na Eucaristia não é o nosso organismo que assimila o pão partido e o sangue derramado oferecido por Jesus Cristo, mas é Ele que nos assimila a si. Assim sendo, nós passamos a fazer parte do Seu corpo, membros do Seu corpo.
E isso faz toda diferença, trazendo sérias consequências.
Primeiramente, com Pão Eucarístico já não mais estamos divididos, pois somos um só Nele.
Sendo um só Nele, leva-nos a outra implicação: somos unidos um ao outro, unidos àqueles que fazem parte do nosso círculo de amizade e também àquelas pessoas com quem não temos um bom relacionamento.
Nisso, nós nos comprometemos quando, na oração eucarística, respondemos: “Fazei de nós um só corpo e um só espírito!” Essa afirmação somente é feita porque acreditamos na única comunhão que se transmite na sagrada eucaristia.    
Com efeito, ao reconhecermos Jesus Cristo na Hóstia sagrada, reconhecemos Cristo no irmão que sofre e tem fome, no irmão doente e prisioneiro, enfim, em todo irmão que se encontra em situação de necessidade.
Então, é arriscado para nós ficarmos indiferentes à essa situação de iniquidade face ao nosso compromisso ou é um perigo àqueles que cometem injustiças e provocam desigualdades se caminharmos juntos e tivermos a certeza que “nossos passos um dia vão chegar”.
É isso aí.

domingo, 24 de julho de 2011

Ainda o Ubuntu (*)


G
ente! Vocês não acharam maravilhosa e oportuna a lição daquela tribo?
Eles vivem naturalmente o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Não há Deus, além de vós, que tenha cuidado de todas as coisas...” (Sb 12,13a).
Esta passagem além de tratar do reconhecimento de Deus e de seu caráter único, explica porque a Bíblia rejeita tanto a idolatria. Pois, só há um Deus! Sendo assim, não podemos “endeusar” realidades, acontecimentos, pessoas, poder, dinheiro, e lá se vão os nossos deusinhos particulares...
Por outro lado, esta passagem nos fala como Deus age e procede em relação às suas criaturas: cuidando. Ele cuida especialmente de nós, feitos à sua imagem e semelhança. Portanto, esta lógica do cuidado é, acima de tudo, ensinamento de Deus. Foi isso que me chamou atenção das indiazinhas: o cuidado para que ninguém ficasse triste.
Somos treinados para competir, tirar proveito, ganhar (nem que seja uma discussãozinha). E, muitas vezes, não nos damos conta das conseqüências disto.
O que está faltando?
Entrar na lógica do cuidado.
Se não formos coletivamente “cuidantes, colocamos em risco a possibilidade de se construir uma sociedade com justiça mínima e paz necessária.
A n a í r e s

Obs.: Ubuntu artigo publicado em 20.07.11

Os onze da 83!

Sr. Redator, fiquei deslumbrado com os artigos do Arino e da Lucinha. Um fala da mamãe e a outra da natureza. Duas descrições lindas e envolventes que nos deixam comovidos. Parabéns para ambas. Que  toquem nos corações de cada um de nós para sabermos nos corrigir e perdoar. Exemplo que ELA tanto nos ensinou.

Zedolino


Obs.: Que os autores desses artigos sejam exemplos para os seguidores desse nosso blog, coloquem suas opiniões, suas lembranças, seus sentimentos etc. Não se preocupe com a parte literária, o que tem valor é sua participação, é você fazer parte ativa desse nosso blog.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Minha paixão pelo outono!


D
urante anos morei em um edifício que tinha em frente uma enorme algaroba.

Todo ano, no outono, ela se despia de toda folhagem e suas folhas jogadas ao chão formavam um enorme tapete amarelo ferrugem e faziam um delicioso ruído quando passávamos por elas.

Era lindo.

Com pouco tempo lá estava ela revestindo seus magros galhos com exuberantes folhas verdes que cresciam rápidas e, de repente, já estava  toda majestosa, toda verde, renascendo, mostrando a todos que aqui nada é definitivo, para sempre, afinal há sempre a oportunidade de mudar, de ter esperança, que mesmo quando perdemos algo importante pode ser para nós e os outros uma oportunidade do novo, uma lição, um ressurgir.

Acho que foi daí que nasceu minha paixão pelo outono. Adoro o colorido das folhas caindo, as arvores mostrando os galhos desnudos, parecendo morta, e aí o verde brota com toda forca, sem duvidar de que o renascimento é possível, inevitável até, que se pode viver com esperança sem medo.

Gostaria que acontecesse o mesmo com as pessoas e de tempos em tempos naturalmente caíssem os nossos preconceitos, as nossas mágoas, os nossos defeitos mais queridos e com paciência e esperança brotassem novos sentimentos, desejos, novos sonhos, como uma renovação de vida, um agradecimento ao Criador, um sim à vida crescendo em nós de todas as maneiras, melhorando tudo, melhorando o mundo sendo mais feliz.


Ana Lucia Lino

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Uma mulher extraordinariamente santa, chamada: ENEDINA.

Era uma manhã como outra qualquer. Sem nenhuma expectativa de algo novo. Seria mais um dia normal? Ledo engano. As minhas lembranças vão se enriquecer nesta manhã.

Fui direto para o quarto dar meu abraço e beijo em minha mãe. Olhando para ela, passei algum tempo contemplando-a e refleti: prisioneira da fraqueza, que consome suas energias. Quase não abandona a comodidade de seu quarto.

Quase não fala, apenas pequenos gestos e alguns segundos do olhar. Vivendo pelo imenso amor materno, mesmo assim nos ensinando: olhe para mim, siga meu exemplo de família, esposa, mãe, sogra, avó e cristã.

Um ser espiritual profundamente religioso. Sua espiritualidade, no entanto, não possui conteúdo teológico, convenções. Sua fé não é morta, é acompanhada de obras de amor, caridade, fraternidade.

Neste quarto, encontro serenidade. É um lugar onde encontramos paz. É um lugar de resplendor celestial. Pois, a força de sua presença é, de fato, algo sobrenatural.

Não demora muito e este lugar é "invadido" por oito filhos que ficam ao seu redor. Ela é o centro das atenções de seus filhos cheios de amor, alegria, felicidade pulsando em seus corações.

Parece até que a presença de Deus se faz mais forte, iluminados pelo Espírito Santo. Fiquei admirado olhando que no rosto de cada um estampa alegria e união.

Ali eu senti que o amor possui fios invisíveis que atam os corações uns dos outros, numa teia de amor que nos torna uno, por força da fé, do amor, das virtudes desta criatura.

Uma grande emoção tomou conta de mim, e fiquei olhando aquele espetáculo, sobre o qual todo céu deveria está debruçado a olhar também.

Senti uma vontade imensa de trazer o mundo inteiro para dentro daquele pequeno quarto, para que todos possam sentir o gosto da paz e do amor.

Como não me foi possível, corri para o meu canto, em outra casa, outra rua, do outro lado da cidade, para agradecer de joelhos a Deus, o privilégio de ser filho de uma mulher extraordinariamente santa, chamada: ENEDINA.


A r i n o