segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dois, de dois, de quinze, cento e cinco anos

U
ma mulher de pouco estudo em sala de aula. Uma letra belíssima, quase que desenhada.

Pouco sabia escrever, mas muito sabia ler.

Sabia ler nossas alegrias e tristezas. Nossas emoções e sentimentos.

Sabia ler nossa vida.

Nossas lágrimas, nossas preocupações, lia no nosso rosto.

O que estava ocorrendo com a gente, lia na nossa maneira de agir.

Se uma lágrima brilhava em nossos olhos, grossas lágrimas lhe corriam ao longo de suas faces.

Se esboçávamos um riso, nos dois cantos da boca lhe nascia um sorriso.

Era assim. Por nós, dava a vida. Deu-se por nós.

O que hoje por ela fazemos é tão pouco, quase nada. Quanto mais nos envolvemos com ela, mais nos desenvolvemos como filho, como irmão e como gente. Parece que ela assim como está, tão velhinha, tão quietinha, não tem mais nada a nos dar.

Ledo engano.

Ir lá, na 83, vê-la, senti-la e tocá-la nos fortalece. E a fortalecemos. Esse encontro nutre nossa essência. Damos-lhe vida. Em nossas idas, digamos assim, mais caseiras, nas nossas visitas mais simples, o ver, o sentir e o tocar são tão necessários para sua vida como o óleo que lubrifica a máquina e a faz funcionar.  

É como existisse uma força que nos atraísse, que nos prendesse e nos dominasse. É impossível não estar com ela. A essa força podemos dar o nome de amor. Amor, sim, amor, ela é amor.

Sua vida foi amor, seu cuidar da gente foi amor. Todo amor é livre e toda ação livre tem dois momentos: primeiro é preciso que se queira, depois é necessário que se faça. Por amor, ela queria e fazia.

Poderia dar exemplos, inúmeros, cito pouquíssimos.

Cedo, café já pronto, levantava-se para abrir as portas e janelas; vinha o sol, que parecia esperar esse momento, para inundar nossa casa, nossa vida, com sua onda de luz.

À noite, partilhava o terço com todos nós, alertando àquele que se retardava nas respostas. No final, ajoelhava-se diante da imagem da Virgem, enquanto já dormíamos, concluía suas orações, fazendo o sinal da cruz e abençoando todos nós.

Nas madrugadas de chuvas e goteiras, visitava nossas redes, cobria-nos com lençóis e carinhos. Por amor, ela queria e fazia.

Dois, de dois, de quinze, cento e cinco anos.

Nesses dias, não estar com ela é privar-se de um momento de contemplação, é abster-se da carícia de tocar seu meigo corpo, é renunciar o amor gratuito, quase que divino.

Nesses dias, estar com ela é descobrir numa ação o agradecimento de sua doação. É perceber que o seu “deu-se por nós” é retribuído, no tempo devido, por aquilo que nos foi ensinado em vida, com palavra e ação. Pois o verdadeiro amor é assim, vai amadurecendo e fortificando com o tempo, tornando-se um amor mais livre e gratuito.

É pela luz que nossa casa se ilumina, é pelo carinho em nossas redes que nosso ser se faz maior, é pelo terço da noite que nossa alma engrandece, assim também, é “pelo amor que a fé se faz ativa”.

Deu-se pelo amor e pela fé ativa.


Parabéns para ela pelo que ela é e parabéns para nós pelo que somos... dela.


Um dia diferente!

Um dia diferente!

Poderia ter sido apenas um encontro que se eternizaria numa foto amadora.

Poderia ter sido apenas momentos agradáveis que se perdiam em lembranças.

Poderia ainda ter sido um gesto delicado que acabaria em si mesmo.

Mas foi muito mais.

Foi diferente... muito diferente... desde o começo...

Desde o momento em que encaixotando as mágoas e divergências, dissemos SIM para a vida.

SIM para a graça!

Diferente quando sentimos a vontade de mudar, de recomeçar, de esquecer as diferenças, de jogar fora o que separava.

Diferente quando pela estrada nos desfizemos do que pesava, do que desequilibrava, do que dividia.

Diferente quando recolhemos o húmus que fertiliza e dá esperança.

Diferente porque um encontro de almas, mentes e corações... um encontro de verdadeiros irmãos.

Diferente porque trocamos o intelecto pela compaixão, porque descobrimos que a vida é breve, não suporta adiamentos e exige força fé e alegria, que só os de boa vontade conseguem ver e viver... é o início do Reino.

Porque as mágoas devem ser como gotas numa folha, enverga, rola e vai embora sendeiras marca da passagem.

Diferente por nos fazer entender que o orgulho, a briga, a distância, o silêncio, não são capazes de recolher a mão estendida, o sorriso amigo e o abraço apertado.

Diferente porque voltamos livres, leves, alegres, com vontade de eternizar, de voltar, de saber que nossos pais fizeram um ótimo trabalho, divino e a certeza que estão sempre por perto, velando por nós e para não termos dúvida escolheram o melhor lugar, o lugar onde tudo começou:

a SOLEDADE.

Abraços em todos!


Ana Lúcia de Oliveira


Te amo agora e para sempre...

N
ão preciso... mas gostaria...

Não preciso estar perto, para dizer que te amo...

Não preciso chorar, para falar da saudade...

Não preciso te expor, para gritar o meu orgulho de ti...

Não preciso te ver, para saber de cada detalhe do teu rosto...

Não preciso te lembrar, porque vives dentro de mim...

Não preciso estar junto, porque sou consequência de ti...

Não preciso estar ao teu lado, para sentir o teu amor e tua força...

Não preciso falar contigo, porque já sabes o que não disse...

Não preciso estar aí agora, mas gostaria...e este seria o meu maior desejo...

Te amo agora e para sempre...


Ana Lucia Oliveira