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u és o Deus-que-me-vê, pois eu vi Aquele-que-me-vê.
Essas são as palavras da escrava Agar. Acredito que foi isso que a moradora em situação de rua, Edna, sentiu, pois também era escrava. Escrava da rua, escrava da sociedade, escrava das autoridades e escrava do companheiro.
Somente dizem palavras assim, aquelas pessoas que se encontram com Deus, que se descobrem, descobrindo Deus. Essas pessoas sabem rezar.
Por falar nisso, um dia estávamos falando de oração, como deveríamos rezar. Não entendíamos como Deus podia atender um pedido de alguém sem que outro fosse preterido. Por exemplo, se pedíssemos uma vaga em um concurso, essa era tirada de alguém.
Pois bem, o João Paulo, o companheiro da Edna, morador de rua, nos ensina a rezar.
Diz ele:
“Quando eu rezo, eu já sei que Deus está sabendo do que eu preciso. Mas eu rezo porque quanto mais eu rezo, mais eu sei do que eu preciso.
E o que é que eu preciso, seu Padre? Eu preciso viver.
Então, eu rezo para acordar vivo. Eu não rezo por besteira, não, porque eu não preciso de besteira pra viver. Então, eu rezo para acordar vivo e eu rezo também para ir pro céu.
Eu só rezo para estas duas coisas: pra viver e pra ir pro céu. Eu rezo pras pessoas não me matar, porque eu quero viver. Eu rezo para não matar as pessoas, porque eu quero ir pro céu.
Eu não rezo pra ter um carro, porque isso não vai fazer eu viver e nem me levar pro céu. Padre Lino, eu acho que Deus só quer que a gente peça isso Dele: viver e ir pro céu.
Então, Ele atende tudo que a gente pede. Se Ele não atender quando a gente pede pra viver, Ele nos leva pro céu, então, Ele atendeu. Ele não pode é atender besteira, Ele não pode dar um carro pra todo mundo, mas Ele pode deixar agente viver ou levar a gente pro céu.
O senhor hoje falou de muitos milagres de Jesus, eu acho que tudinho ou era pra se curar ou era pra perdoar os pecados. Viu?”.
Quando o João Paulo terminou de falar, eu quase fiquei em pé e bati palmas. Nem na Prainha eu tinha visto uma explicação tão simples e tão profunda. Verdadeiramente linda.