sábado, 28 de julho de 2012

17º DOMINGO DO TEMPO COMUM


29.07.2012 – Jo 6,1-15
A
 liturgia de hoje, trata da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. E Ele conta conosco para repartir o pão.
A 1ª Leitura sugere que quando o homem é capaz de sair de seu egoísmo e tem disponibilidade de partilhar os bens recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
Paulo faz uma exortação aos batizados. Ele nos dá pistas de como devemos viver o nosso compromisso com Cristo e faz referência a três virtudes fundamentais: humildade, paciência e mansidão. Neste sentido, é impossível conviver com a divisão, o ciúme, a rivalidade, a inveja, o ódio, que divide os irmãos da mesma comunidade. Isto só mostra que ainda não se descobriu o fundamental da fé.
João apresenta Jesus como o pão que sacia. A grande multidão seguia Jesus, porque Ele representava a libertação da debilidade e fragilidade. Já perceberam que só Jesus é capaz de ajudar a sair de sua condição de miséria e escravidão.
A grande questão que se coloca é: como o crente, formado na escola e nos valores de Jesus, pode responder à fome do povo?
Certamente, que a resposta não pode ser baseada na lógica do mundo, onde predomina a ambição e o egoísmo, mas na lógica da partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. Podem chamar isso de assistencialismo ou de urgência. Mas, enquanto não se vive políticas públicas mais justas, o pobre precisa comer. São dois espaços de luta, que precisam ser enfrentados.
O Evangelho nos ensina que só na lógica da partilha poderemos construir um mundo novo.
Anaíres Lino

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Razão ou felicidade


C
onfesso... sou uma pessoa teimosa. Não... sem condescendência... sou uma pessoa muito teimosa... analisando bem, acrescentaria que sou também contestadora. Para suavizar e redimir de qualquer culpa, poderia dizer que é herança de família e aí já tiraria qualquer responsabilidade e a poria na genética. Fácil assim... mas isto não colocaria nada no lugar ou quase nada.
Quando estou ouvindo alguém, não é uma atenção plena, uma escuta desarmada, já fixo os pontos contestáveis, me perco no restante da narrativa, é mais que a vontade de esclarecer e me vejo defendendo uma opinião contrária, que nem sempre corresponde ao que penso, ou seja, a minha verdade.
Afinal não existe uma verdade, tudo depende do ângulo, do objetivo, da vivência, da paixão... É um vício, tornou-se um hábito. Entre o agradável diálogo amistoso e o "prazer" de ser contra, opto pelo segundo.
É uma vitoria passageira, não leva a lugar nenhum a não ser magoar o outro, distanciar dele porque também se fica cansado de olhares e palavras de censura...
De que serve carregar uma vitória tão efêmera ás custas da mágoa da humilhação e da perda da estima. É bem melhor aceitar como certo o que parece duvidoso, dar uma chance ao "inimigo", caminhar com ele, conversar com ele, olhar para ele, agradecer por este momento, fazê-lo único, inesquecível...
Talvez nunca consiga mudar, mas se der um passo de cada vez, devagar, ouvindo o coração, confiando na estima, querendo que dê certo, saindo vazia de vaidade, mas de coração cheio, com lembranças alegres, sem culpa, sabendo que o tempo não volta e o abraço não dado se perderá no tempo, mas hoje, agora ficará no sorriso, lindo, leve, para sempre e em paz...
É tão melhor a alegria de olhar a pipa numa manhã de sol e desconhecer porque voa tão alto, tão linda na sua dança, saborear uma comida sem saber o segredo, abrir o coração num abraço, apertar a mão, oferecer o sorriso, mesmo que perca todas as respostas, silenciem os argumentos... e afinal, melhor que ser protagonista é ser participante...

Ana Lúcia Lino

sábado, 21 de julho de 2012

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM


22.07.2012 – Mc 6,30-34
A
 liturgia de hoje nos fala de amor e solicitude.
Pela boca do profeta Jeremias, a Palavra de Deus vem nos garantir que Ele é o pastor que ama suas ovelhas. Esta constatação dever ser para nós, crentes, uma fonte de alegria, esperança, serenidade e paz, especialmente quando, muitas vezes, colocamos nossa esperança em “pastores humanos” e eles não correspondem à graça. Mas não esqueçamos que também nós somos responsáveis por “ovelhas” que caminham conosco. E Deus faz severas ameaças aos maus pastores.
Cristo veio apresentar uma proposta de vida, que é para todos, sem exceção. O que é decisivo, agora, é a forma como nós respondemos à proposta. Paulo sugere que façamos uma reflexão: na nossa comunidade somos, efetivamente, irmãos que se amam para além das diferenças legítimas que há entre os membros?
O Evangelho de domingo passado mostrava Jesus enviando os discípulos dois a dois. Hoje, o Evangelho apresenta-nos o regresso dos enviados (apóstolos) de Jesus. Eles estão entusiasmados, mas, naturalmente, cansados.
Esta caminhada dos discípulos é também a nossa, hoje. Somos enviados e precisamos de descanso para não cair no ativismo exagerado. E o nosso descanso é junto de Jesus. É ao lado dEle, dialogando com Ele, escutando e gozando de sua intimidade.
Sempre encontraremos um Jesus cheio de compaixão para que possamos, frequentemente, confrontar nossos esquemas e projetos pastorais.
Anaíres Lino

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A fé!


P
ai, quarta, eu fui à Missa e achei a homilia interessante.
O padre falou sobre fé.
Disse que a fé é um dom gratuito de Deus. E que Ele não escolhe para quem vai dar.
Ele dá a fé para quem deseja. Quem busca a fé, terá a fé.
O celebrante comparou a fé com o sol. Disse ele:
- O sol está lá fora, mas se o homem quiser se trancar em casa, fechar as janelas, ele não terá o sol. Assim é a fé. Você precisa ter fé para buscar a fé.
Achei bem interessante. Acho que o senhor, que talvez nunca tenha ouvido essa comparação, é uma das pessoas que mais entende esse dom.
Cara, admiro tua fé. É isso! Te amo!
Beijos!

João André
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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sempre haverá flores


C
hegava ao supermercado, com pressa, afobada, quando em um canto uma plantinha chamou-me atenção. Parei, me aproximei, era linda, delicada, parecia frágil. Coloquei no carrinho, fiz minhas compras e na caixa uma senhora, bem intencionada, advertiu para sua pouca duração. Sorri, mas não me afastei do meu propósito.

Trouxe para casa e coloquei numa mesinha, bem visível. Sua beleza, suas cores, iriam me fazer feliz por todo tempo que durasse, suas pequenas flores em cacho me alegrariam os olhos, me aqueceriam a alma. Sua aparente fragilidade foi suficiente para elaborar um conjunto de cores em harmonia.

E ela cumpriu sua missão.

É interessante como na vida nos apegamos à duração das coisas condicionando a ele a sua importância, sem parar para ver que a essência está na profundidade, na qualidade deste tempo. É a pressa, a ânsia de que tudo aconteça com rapidez e de uma só vez que dá essa sensação de estar à beira do caminho, sem ver o que passa de bonito, de reconfortante, de promissor, sem ouvir os sons, os pássaros a música. Podemos passar pelo mesmo caminho, dia após dia e não reconhecer as coisas que poderíamos apreciar.

Ao contrario, quando permanecemos no aqui agora, no presente, descobrimos muitas coisas para serem apreciadas, mesmo que passemos sempre pelo lugar, porque tudo é renovado. Percebemos a imponência de uma árvore forte e majestosa, delicadamente florida ou notamos a bonita filigrana de um portão de ferro antigo.

Às vezes ficamos retidos pelos acontecimentos, acorrentados pela dor, atordoados pelos compromissos e ficamos parados, com medo, sem ação, incapacitados, sem força para prosseguir.

Se olharmos para o alto, para cima veremos o sol, o arco-íris, as estrelas, motivos para ir mais além mesmo com os pés doridos, as mãos tremulas, o corpo arqueado... se a alma chora, os olhos turvam, procuramos ver novo horizonte, adquirir nova visão, fortalecendo a crença, acreditando que a poda pode ser dolorida, mas folhas novas virão, frutos surgirão e sempre haverá esperança... e flores.

Ana Lúcia Lino

terça-feira, 17 de julho de 2012

Por que isso acontece?


E
stávamos nós conversando na despedida do semestre, a Casa Dom Luciano Mendes fecha por trinta dias, quando um morador disse ao outro:

- Vamos ficar o mês de julho mais sozinhos do que nunca.

E desabafou com lágrimas nos olhos.

- Quando era pivete, meus pais trabalhavam dia e noite quando não estavam desempregados. Não sei qual era o período pior. Quando desempregados, bebiam e batiam na gente, somos seis. Quando trabalhavam, davam lucros aos que empregavam eles, continuavam sem dinheiro e nunca nos viam. Compravam fiado ao homem da bodega, que no fim tomavam tudo deles. Eles ficavam com raiva do bodegueiro e iam beber e bater em nós. E eu ficava sem saber por que isso acontecia.

Morávamos numa lamaçal envenenado. Vivíamos num barraco com outra família, éramos dez. O divertimento do filho mais velho do outro casal era bater em nós. Minha irmã mais velha começou a namorar com ele para a gente apanhar menos. Pegou um bucho e ele não quis mais saber dela. Papai botou ela pra fora de casa, nunca mais eu vi essa minha irmã. E eu ficava sem saber por que isso acontecia.

Morávamos numa lamaçal envenenado. Nesse amontoado de gente no meio do lixo, de nossas necessidades e dum poço d’água, sobrevivíamos. Não tínhamos dinheiro, morávamos no meio do entulho e da fossa, e cheios de doenças que se espalhavam entre nós. Perdemos dois com tuberculose. Devo ter tido, não sei como me curei. O mais velho que batia em nós teve meningite, foi pro hospital e nunca mais voltou. Deve ter morrido por lá. Não posso dizer que senti falta dele. Vivíamos doentes e tristes e eu ficava sem saber por que isso acontecia.

Morávamos numa lamaçal envenenado. Quando a gente começou a morrer, papai saiu pra trabalhar e nunca mis retornou. Também não nos fez falta. Aquilo não era lugar pra um ser humano morar e nem aquilo era uma família, éramos um bando de bicho que parecia gente. Passei meses e meses sem comer um pedaço de carne. E eu ficava sem saber por que isso acontecia.

Morávamos numa lamaçal envenenado. Nesse tempo comecei a pedir comida na rua pra não morrer de fome. Todo dia saia pedindo e voltava à tardinha com alguma coisa pro outros comer. Todo dia ia mais longe, até que um dia fui tão longe que não mais voltei.

Hoje, tou aqui com vocês e eu continuo vivendo de migalhas, mas sei o porquê disso acontecer e vocês também sabem.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Mel com Farinha


M
el com Farinha,
um sonho que chegou ao fim ou apenas um sono prolongado...
mas não são nos momentos mais difíceis que devemos sonhar e ser forte...
Não existe sonho quando já o vivenciamos...
E não existe sonho solitário...
Vamos continuar sonhando, é na alegria que conseguimos a energia para tempos delicados...
Vamos acreditar...
E vamos sonhar...
Vamos ser sombra...
Vamos ser refrigério...
Vamos ser brisa...
Vamos ser calor...
Vamos ser abraço...
Vamos ser irmãos...
Beijos

Ana Lúcia Lino

sexta-feira, 13 de julho de 2012

15º DOMINGO DO TEMPO COMUM


15.07.2012 – Mc 6, 7-13
A
 liturgia de hoje dá continuidade ao tema dos “enviados”. Todos nós somos chamados a testemunhar o projeto de salvação de Jesus Cristo com simplicidade e despojamento.
Amós é conhecido como o profeta da “justiça social”. Ele viveu num tempo de grande desigualdade econômica e, surpreendentemente de grande florescimento de cultos religiosos. Então, ele denuncia o distanciamento do culto com a vida. Por isso, os poderosos (Amasias) querem calá-lo, “vai para longe”. Mas, Amós, como todo profeta, não se vende, não se cala e está disposto a arriscar a vida em defesa do pequeno, pobre e fraco.
Deus nos elegeu para sermos “santos e irrepreensíveis” e nos “adotou como filhos”. Isto é o que São Paulo nos fala: do amor gratuito, incondicional e radical. Se aderirmos a Jesus seremos marcados com o “selo” do Espírito, que é a garantia de pertencer à família divina.
No meio das solicitações do mundo, será que temos tempo de descobrir o projeto de Deus para cada um de nós? Sim, porque todos nós somos atores principais nesta história de amor, que nosso Deus sempre sonhou e quis escrever e viver conosco.
O Evangelho é uma autêntica catequese sobre a missão dos discípulos (nossa) de Jesus no meio do mundo. É Jesus que chama, precisamos ouvir seu chamado.
Os “doze” são enviados “dois a dois”: doze é um número simbólico que representa a totalidade do povo de Deus e dois a dois sugere que a evangelização tem sempre uma dimensão comunitária.
A nossa missão? Lutar contra tudo que destrói a felicidade do homem: o pecado. E com liberdade e despojamento, anunciar o que Jesus confiou à Igreja: continuar na história a obra libertadora que Ele começou em favor da humanidade.
Anaíres Lino

domingo, 8 de julho de 2012

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM


08.07.2012 – Mc 6,1-6

A
 liturgia de hoje, se preocupa em mostrar que Deus se manifesta na fraqueza e na fragilidade. E se nós nos recusarmos a compreender isso poderemos está perdendo a oportunidade de descobrir Deus que vem ao nosso encontro.

Na primeira leitura Ezequiel, o profeta da esperança, é chamado de “filho do homem”, isto é um homem “normal”, fraco, mortal. As limitações não são impedimentos para a missão, porque o que importa não é a capacidade extraordinária do escolhido, mas a força que vem de Deus que o capacita a ensinar ao povo o caminho para Deus.

Na 2ª leitura está escrito “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se manifesta o meu poder”. Não obstante o “espinho na carne”, Paulo continua a sua missão, impelido pela graça de Deus. Ele tem a atitude de um cristão, onde verdadeiramente Cristo ocupa o centro da própria existência.

É impressionante a metodologia divina. O Todo Poderoso utiliza da fraqueza, da simplicidade para manifestar seus caminhos.

O Evangelho reforça a ideia de que, quando se espera de Deus atitudes fortes e majestosas, fica impossível reconhecê-lo na pessoa de Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro. Mesmo, desacreditado Ele continua na absoluta fidelidade aos planos do Pai.

Isto nos leva a pensar no preconceito com que muitas vezes abordamos nossos irmãos: julgando, catalogando, etiquetando. Nunca paramos para pensar que Deus tem os seus projetos e sabe como transformar “fracassos” em êxitos.

Precisamos ver o mundo, os homens e as coisas com os olhos de Deus. E descobri-lo na pobreza, na simplicidade, na fragilidade, que vem ao nosso encontro e nos indica o caminho da vida.

Anaíres Lino

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Anjo


Q
uando casei encontrei na biblioteca a trilogia do Érico Veríssimo “ O tempo e o vento".

Adorei, tanto que planejei colocar nos filhos que viriam o nome dos personagens: Ana Terra, Bibiana, Rodrigo... o tempo passou e o vento se encarregou de sumir com a intenção.

Na época o título - O tempo e o vento - era apenas uma coisa poética, hoje acho que é um resumo de como vivemos, equilibrando o vento e o tempo. Para alguns a vida é só o pragmático o tempo povoado de poder, de posse, de aquisição e desejos... para outros o viver é ficar ao sabor do vento, como uma folha, vivendo ao sabor do que vier... para grande maioria é uma mistura dos dois...

Existe, porém uma minoria que não faz distinção entre uma coisa e outra e vive intensa e profundamente cada minuto num saudável amalgama...

Conheço uma pessoa assim; maravilhosa, brilhante, com várias facetas que brilham, que envolvem, que confere beleza no caminho... faz da sua vida um multiplicador do tempo, de ações, de bondade.

Acorda, faz suas orações, providencia o café da família, vai a missa, ouve as necessidades das freirinhas, vai ao trabalho, volta põe o almoço, arruma a cozinha e a casa, lava, passa e guarda a roupa, sabe o que cada um dez irmãos precisa e telefona para um, visita o outro, leva ao médico, faz uma quentinha para outro, isto sem negligenciar a família e os amigos. Para si guarda só uma caixinha de comprimidos para eventuais dores de cabeça.

Não tão eventuais assim. E chora suas dores e as dos outros sem que isto a faça parar e lamentar. É um dínamo, santifica seu tempo, vive-o com a tenacidade de um pinheiro e a doçura de um sorriso, como um previsível amanhecer que traz o calor do sol, a suavidade da brisa e a esperança do novo dia...

Está sempre presente, mão estendida, sem cobrança, sem conselhos, mas ali firme, inteira, contendo as lágrimas, escondendo o cansaço, oferecendo solidariedade, tempo, amizade...

A mamãe já havia intuído a pessoa maravilhosa que estava nascendo e lhe deu o nome de Ângela, anjo...o nosso anjo.

Ana Lúcia Lino