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mpossível
não ouvir alguém que fala e prega à “Glória
de Deus”. Até porque não teria como não acontecer, estou lendo aqui ao
lado.
Já
escutei um bom tempo a pregadora *** falar no microfone. Como diria um grande escritor,
por ironia, ateu: “Podia escrever-lhe o nome, mas prefiro esse sinal trino,
número de mistério, expresso por estrelas, que são os olhos do Céu”.
Impressionado
e espantado como ela defende a candidatura do Bolsonaro, comecei a gravar.
Sua
fala alterna com o canto para a “Glória
de Deus”. Assim, penso que é esta sua missão: pregar a Palavra do Filho
para a Glória de Deus.
Perdoem-me
se disse “sua missão”, pois a missão não é nossa, a missão é Dele, somos
simples missionários. Falamos nós a Palavra Dele. Somos portadores de Seu
projeto. E, assim, comprometidos a seguir Seu caminho, Seus passos e comungar
com Seu ideal.
Enquanto
fico escutando esta apologia “bolsonariana”, simultaneamente continuo
lendo a Exortação Apostólica do papa Francisco – GAUDETE ET
EXSULTATE.
Na
verdade, estou relendo.
E,
nesse momento, procuro algum parágrafo que seja, que possa se identificar com
as ações e as palavras do Bolsonaro, tão elogiado por nossa formadora ***.
Não
leio em qualquer lugar de sua exortação, o Papa defendendo preconceitos.
Busco,
mesmo nas entre linhas, algo que Francisco justifique a tortura. Pelo
contrário, como não podia deixar de ser, encontra-se nas redes sociais um vídeo
em que o Santíssimo Francisco condena qualquer forma de tortura e, pede-nos,
como cristãos, a nos empenharmos e colaborarmos para a sua abolição, pois,
segundo sua Santidade, é um pecado mortal, um pecado muito grave. Nada podia ir
mais de encontro àquele que defende abertamente a tortura, o candidato
Bolsonaro.
Continuo
com minha leitura e somente encontro o Papa falar de minorias. Algo que
Bolsonaro, defendido por essa pessoa com tanto entusiasmo, para a “Glória de Deus”, afirma publicamente que
elas têm que se enquadrar ou então desapareçam, pois as leis, segundo ele, são
para as maiorias.
Não
consigo enxergar nenhuma conexão que exista na vida do Bolsonaro com nada que
lemos e escutamos em nossas Celebrações Eucarísticas. Consigo ver, isto sim,
esse homem, que a formadora *** propaga para a “Glória de Deus”, como um indivíduo que fica surdo ao clamor dos
pobres e isso o coloca fora da vontade do Pai e do seu projeto.
Sua
falta de solidariedade com as minorias influi, penso eu, diretamente sobre a
relação dos caminhos e ensinamentos do Filho de Deus. Nesse momento, voltemos
nossos olhos para outra Exortação Apostólica, EVENGELII GAUDIUM
(EG, 186), quando se refere a inclusão social dos pobres: “Deriva da nossa fé
em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres e marginalizados,
a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade”.
Quando
leio o Papa Francisco falar insistentemente na centralidade dos pobres,
marginalizados e sofredores na Igreja, não como algo secundário, mas como uma
verdade fundamental da fé, me interrogo se essa pessoa, aqui ao lado, está
falando da mesma Igreja e do mesmo Deus do Papa Francisco.
Queria
dizer, por fim, que toda pessoa tem todo o direito de se posicionar a favor ou
contra qualquer candidato. Isso é um direito que todos temos. Democracia é
isso. Entretanto, acredito que existe o momento e o local adequado.
Acredito
ainda, que a Casa do Filho de Deus seja o local mais inapropriado possível.
E
mais ainda acredito que, dentro da Casa Dele, o local onde se realizam os
encontros de orações, momentos de formações e Celebrações Eucarísticas não seja
o lugar ideal para defender a vida e a obra do Bolsonaro, cantando que é para a
“Glória de Deus”.
Finalmente,
e agora concluo, se o pastor Silas Malafaia estivesse ouvindo essa formadora
*** defender Bolsonaro, em nome de Jesus, para a “Glória de Deus”, ficaria extremamente satisfeito por ter seguidora
no âmago da Igreja Católica Apostólica.
Que
Deus nos dê paz e sabedoria, mas primeiramente a fé e, antes de tudo, a
salvação.