sábado, 29 de setembro de 2018

COISAS DE VIZINHOS...


I
mpossível não ouvir alguém que fala e prega à “Glória de Deus”. Até porque não teria como não acontecer, estou lendo aqui ao lado.

Já escutei um bom tempo a pregadora *** falar no microfone. Como diria um grande escritor, por ironia, ateu: “Podia escrever-lhe o nome, mas prefiro esse sinal trino, número de mistério, expresso por estrelas, que são os olhos do Céu”.

Impressionado e espantado como ela defende a candidatura do Bolsonaro, comecei a gravar.

Sua fala alterna com o canto para a “Glória de Deus”. Assim, penso que é esta sua missão: pregar a Palavra do Filho para a Glória de Deus.

Perdoem-me se disse “sua missão”, pois a missão não é nossa, a missão é Dele, somos simples missionários. Falamos nós a Palavra Dele. Somos portadores de Seu projeto. E, assim, comprometidos a seguir Seu caminho, Seus passos e comungar com Seu ideal.

Enquanto fico escutando esta apologia “bolsonariana”, simultaneamente continuo lendo a Exortação Apostólica do papa Francisco – GAUDETE ET EXSULTATE.

Na verdade, estou relendo.

E, nesse momento, procuro algum parágrafo que seja, que possa se identificar com as ações e as palavras do Bolsonaro, tão elogiado por nossa formadora ***.

Não leio em qualquer lugar de sua exortação, o Papa defendendo preconceitos.

Busco, mesmo nas entre linhas, algo que Francisco justifique a tortura. Pelo contrário, como não podia deixar de ser, encontra-se nas redes sociais um vídeo em que o Santíssimo Francisco condena qualquer forma de tortura e, pede-nos, como cristãos, a nos empenharmos e colaborarmos para a sua abolição, pois, segundo sua Santidade, é um pecado mortal, um pecado muito grave. Nada podia ir mais de encontro àquele que defende abertamente a tortura, o candidato Bolsonaro.

Continuo com minha leitura e somente encontro o Papa falar de minorias. Algo que Bolsonaro, defendido por essa pessoa com tanto entusiasmo, para a “Glória de Deus”, afirma publicamente que elas têm que se enquadrar ou então desapareçam, pois as leis, segundo ele, são para as maiorias.
Não consigo enxergar nenhuma conexão que exista na vida do Bolsonaro com nada que lemos e escutamos em nossas Celebrações Eucarísticas. Consigo ver, isto sim, esse homem, que a formadora *** propaga para a “Glória de Deus”, como um indivíduo que fica surdo ao clamor dos pobres e isso o coloca fora da vontade do Pai e do seu projeto.

Sua falta de solidariedade com as minorias influi, penso eu, diretamente sobre a relação dos caminhos e ensinamentos do Filho de Deus. Nesse momento, voltemos nossos olhos para outra Exortação Apostólica, EVENGELII GAUDIUM (EG, 186), quando se refere a inclusão social dos pobres: “Deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres e marginalizados, a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade”.

Quando leio o Papa Francisco falar insistentemente na centralidade dos pobres, marginalizados e sofredores na Igreja, não como algo secundário, mas como uma verdade fundamental da fé, me interrogo se essa pessoa, aqui ao lado, está falando da mesma Igreja e do mesmo Deus do Papa Francisco.

Queria dizer, por fim, que toda pessoa tem todo o direito de se posicionar a favor ou contra qualquer candidato. Isso é um direito que todos temos. Democracia é isso. Entretanto, acredito que existe o momento e o local adequado.

Acredito ainda, que a Casa do Filho de Deus seja o local mais inapropriado possível.

E mais ainda acredito que, dentro da Casa Dele, o local onde se realizam os encontros de orações, momentos de formações e Celebrações Eucarísticas não seja o lugar ideal para defender a vida e a obra do Bolsonaro, cantando que é para a “Glória de Deus”.

Finalmente, e agora concluo, se o pastor Silas Malafaia estivesse ouvindo essa formadora *** defender Bolsonaro, em nome de Jesus, para a “Glória de Deus”, ficaria extremamente satisfeito por ter seguidora no âmago da Igreja Católica Apostólica.

Que Deus nos dê paz e sabedoria, mas primeiramente a fé e, antes de tudo, a salvação.



domingo, 16 de setembro de 2018

80 anos! Padre Lino e o Grupo Padre Lino!

U
m dia, ao abrir o portão para o Adriano, no instante em que entrou, ele olhou e disse:

– Quando a gente passa por esse portão encontra uma grande paz.

Estava se referindo ao nosso encontro. Reunião do Grupo do Padre Lino.

Um encontro de grande paz. Paz que ele, Lino, nos transmite e passa.

Grupo formado por convite, com vários membros, de diversas partes dessa cidade, por onde andou em missão sacerdotal.

Percebemos que cada membro do grupo tem algo que o liga ao Padre Lino. Cada um a seu modo, a seu jeito e de maneira diferente, mas, certamente somos complementares. Pois se isolados fôssemos, pequenos seríamos.

Esses “algo” estão ligados entre si, nenhum “algo” do Grupo pode existir inteiramente sem abraçar uma parte da outra, e assim, somente assim, faz-se a grandeza desse Grupo. Porque o padre Lino é o todo.

Chegamos aos encontros com nossas alegrias e dores, com nossas vitórias e nossas derrotas, trazemos a vida para partilhar. Essa é nossa caminhada sempre em busca de sentido e de esperança.

No grupo todos e tudo se revela e se traduz.

Revela-se em abrir-se aos membros, suas preocupações e inquietações, suas alegrias e esperanças numa conversa de coração aberto e confiante, que se resume tudo, sempre, na preocupação com o outro, na busca de melhor servir àquele que está à margem da sociedade, nas periferias...

Isso sempre com o olhar e a simplicidade de quem entende e vive esses sentimentos, com a visão e a experiência de quem experimentou e experimenta as angústias das desigualdades sociais, o sofrimento dos menores e a indiferença dos grandes, e sabe direcionar nossas energias, mesmo em sacrifício, ao bem comum, que nos abre caminhos e nos aproxima do Reino de Deus.

Quando escutamos o Padre Lino, com seu olhar e sua simplicidade, percebemos uma voz amiga e sentimos um ardoroso desejo de estar sempre com essa voz e esse padre.

É assim que esse Grupo nos faz caminhar, buscar e nunca perder de vista Aquele que é a Luz.
É assim que esse Grupo procura manter a confiança no Senhor, não se distanciar do projeto de Deus e caminhar na certeza das palavras do evangelista: “meu fardo é leve e meu jugo é suave”.

Por isso, é bom abrirmos o portão da paz para ficarmos juntos e escolhermos o bem.

80 anos! Padre Lino e os irmãos de rua!


P
erto de muita água, tudo é feliz. Já dizia Riboaldo.

E como bons nordestinos, gostamos muito de água. De seu sabor, de seu som e, nada melhor pra nós, do que vista de água. O personagem de Guimarães Rosa falou pra nós e a gente pode parafrasear dizendo: perto do padre Lino, tudo é feliz.

Pois, nosso padre de toda hora, padre Lino, nos faz lembrar água. Água Viva!

Quando na rua, com seus irmãos, ele tem momentos de pura paz, como um tranquilo espelhar de águas. Conversa com os moradores em situação de rua como verdadeiro irmão. Passa-lhes as mãos nos ombros e sai em visita a todos. Ali navega ele como em águas silenciosas e serenas. Nesses momentos, como um orientador espiritual, mais escuta do que fala, sua presença já diz muito, e diz como oração.

Mas, se algum desses ‘pequeninos’ for traído pela injustiça, maltratado pela polícia ou espancado em sua integridade, aí se transforma em água corrente enfurecida, que, como nas enchentes, surpreende por sua força e valentia. Estar ao lado deles fez-se obrigação. Não no sentido de simplesmente ser forçado, mas de saber que todos têm o mesmo Pai, e que em cada ato da vida ele é chamado a manifestar o verdadeiro culto a Deus. Disso somos testemunhas.

No período neotestamentário muito se fala no Mar Morto e no Mar da Galileia. Pois o nosso padre lembra-nos o Mar da Galileia. O Mar Morto já tudo diz: morto. Apesar de receber as águas do rio Jordão, simplesmente as retém para si. Enquanto o Mar da Galileia, recebendo as mesmas águas, não as represa para si, permite refluírem, para banhar todo o vale do Jordão. Esse é o padre Lino, não se limitou a receber amor da família, dos amigos e da Igreja, mas, como missão, também ofereceu amor, principalmente aos mais abandonados pela sociedade. Um testemunho vivo das palavras do evangelista João: “... a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar”. Esse é nosso padre: fonte que jorra. Jorra em todos os lugares.

Na Casa Dom Luciano Mendes, nas praças, debaixo das marquises, nos sacramentos da Igreja, está o nosso padre Lino e seus irmãos de rua.

Às tardes, na Casa Dom Luciano Mendes, nas celebrações, nas conversas, nas reuniões vê-se a vocação de um sacerdote e a compreensão que só o amor pode humanizar realmente a sociedade.

Quem, um dia, na semana da Páscoa, pode assistir a cerimônia do Lava-Pés desse povo em situação de rua com seu padre, quer tenha sido na praça, na casa, ou outro lugar qualquer, presenciou um cena visível aos olhos crentes do ícone de amor da Igreja. Pois quando o padre Lino começa a lavar e beijar os pés dos moradores, invisivelmente o próprio Cristo dá a volta para lavar os pés de cada irmão de rua, pois é exatamente por aí que se começa, pelos menores.

Essas celebrações, como bem deseja o Vaticano II, transcorrem como ápice e força de nossa Igreja, e, nesses momentos, o nosso padre ao redor dos irmãos tão necessitados, exprime sua fé e, simultaneamente, a concretização de suas ações.

Faz-se assim mistério de nossa fé.