quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Hoje tem moagem!



J
á bem antes da aurora, ele já aboia a junta de bois.

A manhã traz na garoa o aroma do engenho.

É o cheiro do papai!

E com ele a sinfonia da moagem.

Hê boi! Hê boi!

Berram os vaqueiros!

Esses gritos nos tiram da preguiça e de um pulo, levantamos.

Falei gritos?

Que gritos, são sons suaves que serenam nossa manhã.

É a voz do papai!

O dia promete ser agitado e os momentos seguramente serão eternos.

A junta de bois há tempos dá voltas nas moendas.

A extrair da cana a garapa.

Fazendo a garapa descer como um riacho doce para o tanque,

Que abastece o balé do caldo de cana que salta nas caldeiras.

Dá tempo de melar os dedos na gamela e puxar alfenim.

Antes que a mamãe nos chame para o café.

Dá sempre tempo de extrair enormes prazeres das pequenas atividades.

As rapaduras começam a entupir o paiol.

Enchendo o papai de alegria.

A fornalha queima sem parar,

O calor da fornalha aquece as caldeiras.

Tem o calor que aquece nossa união.

É o abraço do papai!

Fortalecendo nossa unidade, consolidando uma comunhão familiar.

O bagaço de cana se estende no sol que nasce por traz do mangueiral.

O dia com seu cheiro e seu doce está só começando.

Dia em que se bloqueia o mau humor e esmaga as encrenca.

São dias assim que nos ensinam compartilhar.

Repartir o mesmo espaço da casa, do alpendre e do engenho.

E dividir a mesma história.

Tudo é tão leve e doce, tudo é tão tranquilo e suave.

Tudo é tão belo e simples.

Tudo, tudo.

Os gestos são leves. O amor é gratuito, como deve ser.

Tudo é muito leve e doce.

Em tudo isso...


A gente ver o papai!