quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sugestão para um domingo

T
oda primavera os judeus celebravam sua Páscoa. Podemos nós repeti-la uma vez por mês com nossos familiares.

Tendo o pai de família como presidente da celebração. Obedecia-se uma orientação ritual, que se dividia em quatro etapas e cada etapa constava um cálice de vinho. Como os tempos são outros, podemos fazer um revezamento entre os familiares.

Primeira etapa – À mesa o pão e o primeiro cálice. Em pé, o pai de família dava graças sobre o pão e um primeiro cálice. Partia o pão na metade; uma parte distribuía com os presentes e a outra guardava sob uma toalha. Todos comiam da metade do mesmo pão e bebiam do mesmo cálice. A qualidade do vinho e o tamanho do cálice irão depender do gosto dos presentes. O importante é perceber a partilha.

Segunda etapa – À mesa o cordeiro imolado e o segundo cálice. O pai de família convida todos a participar da ceia propriamente dita. Consumiam-se o cordeiro com ervas amargas e outras especiarias. Todos comiam do mesmo cordeiro e bebiam do segundo cálice. Aqui, se realiza uma grande comunhão, um almoço dominical, uma ceia familiar. Pode-se trocar o cordeiro por um suculento pernil.

Terceira etapa – O terceiro era o cálice de ação de graças. O pai de família fazia uma breve explicação do que era o sacrifício pascal em memória da libertação do Egito. Novamente em pé, o pai de família dava graças sobre o terceiro cálice, chamado cálice da bênção ou cálice da ação de graças. Proclamava os benefícios de Deus em favor do povo. Lembrava a aliança de Deus pela criação e a aliança do Sinai. Agradecia a aliança que Deus renova a cada dia através do alimento. Por fim, distribuía para os presentes o pão e o terceiro cálice abençoados. Chegamos ao ápice de nossa reunião. A bênção deve ser bem solene, com palavras e gestos. Um momento de memória, de agradecimento, de silêncio e de alegria.

Quarta etapa – O cálice da despedida. É o momento que todos recitam salmos de louvor e se bebe o último cálice, o da despedida. Como temos muitos salmos de louvor, fica a critério de cada família.



Em tempo – Enquanto escrevia fiquei pensando no José Baptista, ou no “Zé”, como a Lucinha chama, como um exemplo de “Pai de Família”, para presidir essa celebração, em boas palavras, esse almoço.

sábado, 15 de junho de 2013

Ao mesmo tempo

L
á vem Renato com seus quarenta anos, mas aparentando mais de cinquenta, se aproxima de mim e pergunta:

- Hoje, tem merenda?

- Não. Respondo.

- E tem missa?

- Sim.

- Então, eu vou ficar.

- Por quê? Agora, sou eu quem pergunta.

- Quando o padre for distribuir a comunhão, eu como alguma coisa, aquele pedacinho de pão. Tou com três dias que não como.

Num primeiro momento, fiquei sem saber o que dizer. Quis falar-lhe sobre a Eucaristia. Fiquei parado diante daquele homem, que impaciente, de olhos baixos, coçava a cabeça. Depois, pensei em Mateus (Mt 25, 42) “Porque tive fome e ...”.

Refleti! Como eu posso receber de modo pleno a comunhão, se ao mesmo tempo não dou pão para a vida do Renato que se encontra à minha frente numa necessidade extrema.

Talvez, se eu lhe pagar uma merenda, solução assistencialista, resolva sua fome hoje. Hoje, e amanhã? Amanhã, ele vem de novo e vai se tornar dependente de mim. Nada mais lógico para quem o trata como um coitado.

Mas, pensei, se ele participar de nossas celebrações onde fazemos da evangelização ao mesmo tempo uma ação de elevação da vida. Onde procuramos promover a vida. Promover a vida é fazer que o Renato exija das autoridades pão, dignidade e liberdade. 

Esse caminho é longo e penoso. Um objetivo de médio e longo prazo para quem tem sua maior meta onde dormir e o almoço do dia seguinte é muito difícil, mas é o caminho. O “pobre coitado” busca sua identidade e surge como sujeito de suas ações.

Os “Renatos”, que não são simplesmente aqueles que não têm, mas uns oprimidos, questionam minha vida cristã: Como ser cristão numa cidade de injustiçados, drogados e oprimidos?

Compreender a fé e o oprimido leva-nos a participar ativamente num processo de igualdade entre todos. Onde tudo é de todos porque Ele é de todos.


Amanhã tem mais...

domingo, 9 de junho de 2013

ORAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO


Diz o papa Francisco,

 esta é uma oração que devemos recitar todos os dias:

“Espírito Santo,

fazei com que meu coração permaneça

aberto à Palavra de Deus,

que meu coração esteja aberto ao bem,

que o meu coração se abra à

beleza de Deus todos os dias”.

Através do Espírito Santo, o Pai e o Filho passam a habitar em nós:
nós vivemos em Deus e de Deus.

Temos a nossa vida verdadeiramente animada por Deus,
nada pondo antes de Deus.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

FÉ – SERVIÇO – ALEGRIA

A
 visita de Maria a Isabel foi escrita por Lucas descrevendo uma atmosfera de alegria, de festa e, é exatamente por isso, que a Igreja nos manda ler – Lc 1, 39-56 – para celebrar a festa da Visitação de Nossa Senhora (Coroação de Nossa Senhora).

Diz São Lucas: “Bendita és tu entre as mulheres”, “Feliz és tu, que crestes”, “A criança pulou de alegria”, “Meu espírito se alegra em Deus”, usando todas essas expressões e exclamações a nos transmitir grande felicidade.

Assim, São Lucas nos apresenta duas mulheres profundamente felizes. É como se elas estivessem nos mostrando aquilo que nós lemos na profecia de Sofonias (Sf 3, 14-18): “canta de alegria, rejubila, alegra-te e exulta”, etc. para nos fazer também experimentarmos essa felicidade enorme.

Fé e felicidade, juntas, ainda soa estranho para muitos cristãos. A fé pode conduzir à felicidade? Pode nos trazer alegria? Dirão alguns: quem sabe no céu, na realização plena do Reino?

Para muitos cristãos a fé é vista, em primeiro lugar, como renúncia e sofrimento. De tal maneira que a impressão que nós cristãos damos para muita gente é sermos pessoas presas, que têm muitos obstáculos para viver a vida com prazer. Já houve mesmo quem dissesse que o cristianismo se caracteriza por isso: por destruir a alegria de viver.

Essas duas mulheres nos convidam a viver justamente o contrário. Ora, a fé é uma fonte decisiva que nos torna capazes de enfrentar a vida, com todos os seus problemas e as suas angústias, mas com felicidade profunda, com uma alegria profunda.

A fé traz alegria quando vem acompanhada de serviço. São as grandes qualidades indicadas nesse evangelho e são qualidades fundamentais, que nos devem acompanhar e nos fazer compreender toda a razão da presença de Jesus Cristo entre nós.

Maria é feliz porque acreditou e quem acredita na Palavra de Deus se faz servo. Ser servo é sair de si em direção ao outro, uma vez que estamos sempre fechados dentro de nossas próprias necessidades. Aqui está a grandeza de Maria, e Isabel sabe exatamente o valor dessa grandeza, a “Mãe do Salvador” foi visitá-la.

Assim, não se entende essa visita de Maria sem fé. Não se entende essa visita de Maria sem serviço. Não se entende essa visita de Maria sem alegria. E o espírito de alegria é essencial para viver a fé e o serviço.

Essas duas mães nos convidam a viver e celebrar a vida a partir da fé. A mesma fé, que nos faz celebrar a festa da Coroação de Maria e que nos faz sermos testemunhos do Reino, através do serviço.

A grandeza dessas duas grávidas não vem do status social nem do poder econômico, mas da maravilha que Deus operou nelas. Nelas, Deus encontrou espaço para agir e para operar maravilhas.

Para que isso aconteça – fé, serviço e alegria – nós precisamos dar espaço a Deus para que Ele realize maravilhas. Dar espaço a Deus é sairmos do nosso comodismo, dos nossos preconceitos, da nossa arrogância, de nossas casas, etc.

Maria é discípula fiel em relação a Deus e solidária em relação a Isabel. Ou seja, o serviço a Deus só é verdadeiro quando ele é serviço ao irmão e a irmã. Quer dizer, a verdade do amor a Deus se traduz no amor aos outros.

Aquilo que Isabel disse a Maria deveria valer para cada um de nós: “Feliz és tu, porque acreditastes”. É a fé, nos trazendo essa profunda alegria, que nos faz capazes de vivermos de uma maneira diferente de como as pessoas vivem nesse mundo.

Por fim, como diz o Documento de Aparecida (272): “Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Indica, além do mais, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade cristã, ‘sintam-se como em casa’”. Pois, assim como Maria nos faz descobrir o Pai, o Filho e o Espírito Santo, também nos leva a encontrar com o próximo, nossos irmãos e nossas irmãs. Descobrir o Pai e encontrar nosso próximo é a alegria plena, nossa fé em ação.

João Lino e Ana Catarina