segunda-feira, 27 de abril de 2020

Um só Corpo e um só Espírito



Q
uando o sol ainda estava frio, chegavam na 83 a Ângela e sua família, traziam consigo a Aines. Com grande alegria e carinho eram recebidas pela Aila e Altair. Sabiam que o dia era diferente.

Logo depois, junto com sua família, chegava o Arino. Já era uma festa quando lá vem a Araíres, também com a família completa. E chego eu, toco a campainha, e sou recebido com uma felicidade que “contagia”; meus netos entram correndo, e seus pais atrás deles.

A campainha não para de tocar, chegam o Airton e toda sua turma. Antes de fecharmos o portão, aproxima-se o José Airles, trazendo consigo, os filhos, os netos e os bisnetos.

Espalhados pela casa louvávamos de alegria, a felicidade estava nos nossos rostos. Algumas lágrimas não se contiveram. Uns na sala, outros na cozinha, alguns na varanda, tomamos a 83 por completo.

E a campainha toca mais uma vez, que grande e bela surpresa. Era a Aglair e a Lúcia com seus familiares. Não sei se elas subiram os degraus ou fomos nós que descemos. Só sei que tinha tanta beleza em cada gesto, tanto significado em cada abraço, tanta ternura em cada sorriso.

Essa gente toda reunida e com essa felicidade, já não cabíamos na 83.

E foi aí, que a Aila e a Altair gritaram (ou profetizaram?):

- Abram os portões.

Fomos à rua. Invadimos o asfalto, e logo as pessoas começaram a descer dos seus apartamentos e se juntaram a nós.

Um só corpo...

Não sei de que edifício nem andar, mas saiu uma voz que dizia:

- Deus é Pai!

- Sim, somos todos irmãos, foi um coro só.

Os pessoas que trafegavam na historiador Raimundo Girão, estacionaram seus carros e se juntaram a nós. Mais e mais veículos eram abandonados nas ruas e avenidas e mais pessoas se faziam irmãos. Dos ônibus desciam verdadeiras multidões.

As pessoas se levantaram dos bancos das praças, saíram debaixo das marquises, deixaram as esquinas e foram para nosso meio.

Esvaziaram as penitenciárias, desocuparam as delegacias, varremos o medo, ninguém era cativo de ninguém, fazíamos servos para sermos livres.    

Tomamos o aterro de Iracema, a praia toda, e pra lá desciam pessoas de todos os lugares. Contavam-nos que os bairros estavam se juntando a nós. Não mais tinham periferias, a cidade era uma só, extraordinariamente única, sem divisões. Vinham notícias de caravanas chegando do interior.

Uma multidão sem fim, invadindo todas as ruas, avenidas e praças, reunida por um amor que se afastara, e que agora cheia de fé, viu-se contemplando a glória de Deus.

A cidade toda se fazia um só corpo e um só espírito.

Gritava louvores, hosanas e aleluias!

Naquele momento em que gritávamos, ELE nos escutou!

Uma chuva fina começou a cair, e uma voz vinda do céu, dizia:

- A Paz Esteja Convosco!

Foi quando acordei, com um sorriso e uma lágrima escorrendo, respondi:

- ELE está no meio de nós.

Feliz, fui novamente dormir.


terça-feira, 21 de abril de 2020

ESPÍRITO SANTO!


H
oje, vamos falar de alegria, felicidade.

Gosto do dia, sou louco pelo sol, mas a chuva tem uma sedução especial.

Ela nos atrai pra janela, nos faz contemplá-la e seu som nos encanta.

Quando se aproximam suas primeiras gotas tão finas e simples já sentimos o cheirinho da terra, mas nem imaginamos quão forte ela vai chegar.

Só sei que ficamos felizes quando ela chega.

Acho que o mesmo acontece com o Espírito Santo.

Vamos falar da força do Espírito Santo.

Ele chega devagarinho, nos faz dóceis, mansos, pacatos e flexíveis.

E assim, exatamente assim, Ele vai nos transformando para melhor.

Como a chuva, contemplemo-LO, deixemos que pela nossa mansidão sejamos levados por seu encanto.

Uma vez que é nossa mansidão que abre a porta ao Espírito Santo, permitamos que Ele nos abarque, nos envolva.

Sejamos tomados por Ele.

E, aí, uma graça admirável, dom de Deus, nos surpreende, pois toda a transformação que há de vir pelo Espírito Santo é inimaginável posto que é imensamente maravilhosa.

Isso gera mais harmonia, mais Espírito Santo, que é o cerne de nossa felicidade.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

LAVAR AS MÃOS


H
á poucos dias, na Semana Santa, ouvimos ser proclamado que Pilatos “lavou as mãos”, ou seja, pouco se importando com o futuro de Jesus.

Lavou as mãos, deu as costas, e Jesus foi condenado.

É o perigo da soberba, do orgulho, da arrogância, do domínio, da posse, da força. Pobre Pilatos.

São, entretanto, riscos que estão no meio de nós. Que nos atinge, nos alcança e igualmente nos contagia.

Dentro desse isolamento social, também corremos o perigo de darmos as costas e “lavarmos as mãos”, e pouco se importando com o futuro dos irmãos esquecidos das periferias, uma grande parte de uma multidão, que existe a beira sobrevivência, são aqueles esqueléticos e famintos.

São os esquecidos por uma desigualdade social que afronta qualquer cristão ou até aqueles que se dizem ateus graças a Deus.

Orientam-nos para uma higiene pessoal rigorosa. Que usemos álcool gel por qualquer contato de seja. O asseio e a limpeza são essenciais. Tome banho, lave o rosto, banhe os alimentos. Lave-se sempre.

É, mas nem todos podem seguir essas recomendações tão importantes e necessárias.

 São os que ficaram à beira do caminho, que se atrasaram, ou melhor, nós os deixamos.

Têm muitos lugares que “lavar a mão” uma vez por dia e seguir em frente é um luxo.

Têm muitos lugares que “lavar as mãos” e dar as costas é uma sujeira que condena.


sexta-feira, 17 de abril de 2020

Ainda temos opção...



N
ós, os pobres!

Falam de uma quarentena. Uns dizem isolamento social.

O que significa isso pra nós?

Isolamento social? Já somos isolados há gerações.

Já vivemos à margem da sociedade naturalmente, ao nascermos.

Ao largo do mundo, da dignidade humana, não dos ricos, pois estão indignos.

Quando me perguntam se estamos com fome, respondemos:

- Sempre.

Temos fome... porque nos roubaram as escolas.

Temos fome... porque nos roubaram os hospitais.

Temos fome... porque nos roubaram o saneamento.

Temos fome... porque nos roubaram o trabalho.

Um dia essa fome vai nos roubar o medo.

E nesse dia tudo serão de todos. Pelo bem ou pelo mal.

E nesse dia, muitos se arrependerão de nos terem roubado o que era de todos.

Mas pode ser diferente, se houver uma Transformação Interior de todos nós, quando:

O poder for substituído pelo serviço.

O comércio e o lucro pela partilha.

E a indiferença pela inclinação de ver e ouvir os invisíveis.

Refiro-me um modo alternativo de viver, uma nova opção de conviver em sociedade, que leva ao nivelamento fraterno das pessoas.

Isso já nos foi dito há dois mil anos atrás, isso é que nos aproxima do Reino de Deus.

Pois ELE anunciou o Reino de Deus e a conversão. Conversão é a Transformação Interior.

Este é o verdadeiro sentido do caminho da cruz, é a estrada da Transformação Pessoal.

Ainda temos a esperança de que nossos cultos nos deem forças para uma vida de justiça, mas que fique claro, a justiça está acima do culto.

Quando tocarem nossas campainhas, serão aqueles que desentupiam nossas pias e banheiros, tiravam as goteiras, consertavam as descargas, e lavavam tudo aquilo que não queríamos por as mãos.

Acabaram os “bicos”, chegou a fome.

Quando tocarem nossas campainhas não serão mais pedintes implorando pão, irão dizer: eu quero dividir o que tu tens.

Não se surpreendam.

Não importa onde estiverem, eles vão entrar, não importa as alturas dos seus muros, eles vão entrar. Não importa as vigilâncias, eles vão entrar.

Ou nós distribuímos ou seremos forçados a distribuir.

Ainda temos opção, eles... os pobres, estão no limite.


quarta-feira, 15 de abril de 2020


L
uz, luz, luz... luzes... LUZ.

Tua luz, minha luz.

Luz do próximo que se fez próximo.

Luz do que não foi indiferente, mas fez a diferença.

Luz de quem não se fez egoísta, mas saiu do seu individualismo.

Luiz de quem não procurou as divisões, mas preferiu repartir.

Luz de quem não caiu no esquecimento, mas se lembrou dos sozinhos.

Luz de quem tendo condições, não se esqueceu daqueles que vivem em condições insuportáveis.

Luz de quem não se fechou em si mesmo, mas que se reconheceu como parte de uma única família.

Luz de quem com todo conforto, somente encontrou abrigo com os desabrigados.

Luz de quem sempre está com alguém, mas buscou as pessoas sem ninguém.

Todas as luzes é uma só LUZ!

A LUZ que dissipa as trevas e faz amanhecer o dia.

Não é uma nova luz que ilumina o mundo.

É a mesma LUZ que ilumina um novo mundo!

O Ressuscitado é a LUZ!


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Onde está a luz?


S
e eu fosse poeta,

Posto que não sou,

Emendava palavras e saia por aí falando de nossa tristeza.

Dizia como estou navegando no desconhecido, em ruas sem almas e em becos escurecidos e abandonados.

Onde está a luz?

Amarrava as palavras umas nas outras a procura dos outros:

Onde estão?

Como estão?

Tudo, tudo tão só! Que agonia!

Onde estamos indo se não saímos do lugar, quando o contato contagia, e a esperança é o isolamento.

Onde está a luz?

Por mais que eu tente, que eu ande, que doa, que seja doloroso... eu olho pra fora e pra dentro de mim mesmo, sinto que se não fizer isso estou abandonando os outros e desistindo de nós mesmos.

Insisto em prender algumas frases pra me libertar; me faz pensar que isso me cria forças. Por mais que o cálice seja amargo, tem sempre uma fonte cristalina, por mais que os becos sejam sombrios, têm sempre uma esquina.

Onde está a luz?

Para cada obstáculo, tem sempre um salto. Salto que é sinal de busca, manifestação de procura, um modo de ir em frente, de travessia e de superação.

Foi assim, refletindo, a cada passo, a cada volta, a cada sombra, a cada noite que, como uma chama, eu descobri ELE... dentro de mim.

E O descobri quando procurava os outros.

E foi assim, que percebi que existe um contágio que não contamina, mas transmite amor, compaixão, sensibilidade e nos faz diferente.

E foi assim, que percebi que nós não somos os mesmos, inaugurou uma nova dimensão de ser irmão.

Onde está a luz?

Está dentro de cada um que procura o próximo.



NOSSO "SIM"!


V
ivemos num momento muito especial.

Podemos dizer que é um momento de espera até que tudo volte ao normal, ou podemos dizer que é um período de se transformar, de crescer, de responder.

Jesus tem uma luta apaixonada pelo nosso “SIM” à sua mensagem, tudo isso porque tem um amor profundo por nós.

É um momento de responder, crescer e aguardar.

Quando falo em aguardar, quero dizer que nos aguarda um novo mundo, uma nova maneira de sermos, um modo diferente de tratarmos os outros, agora, com compaixão.

Jesus está nos orientando, nos transformando, nos norteando, nos capacitando para um novo tempo, nos preparando para uma nova jornada.

Nos despindo de nosso egoísmo e de nossa indiferença. Nos desnudando de nosso consumismo.

Aguardando apaixonadamente nosso “SIM” à sua Palavra.

O consumismo está institucionalizado em nossa sociedade, e isso nos afasta das pessoas. A febre desse consumismo se encontra em cada um de nós e está na hora de escolher: entre nossa lealdade a vontade de Deus ou nosso interesse, fazendo nossa vontade.

Cada um de nós tem a capacidade de escolher nosso próprio interesse e se iludindo com um bem-estar, que nunca completa, ou nossa fidelidade a Ele.

É hora de questionarmos e escolhermos entre nossa lealdade ao Pai, amando os irmãos, ou olhando somente para nossa ilusória satisfação.
É o momento de crescermos espiritualmente.

Não compreendam isso como transformarmos todos em beatos e beatas. Estou querendo dizer que “a espiritualidade é uma dimensão de cada ser humano”. Estou querendo dizer ainda, que isso nos leva a um diálogo com nosso coração e, é aí, que devemos questionar nossa vida, buscando Deus.

Isso mesmo, buscar Deus. Só nós, por Jesus Cristo, somos capazes de buscar Deus. E cada um tem seu caminho, sua maneira de servir a Deus, não, simplesmente de se servir de Deus.

Uns vão procurar seu valor espiritual nas novenas, é importante, mas não basta. Alguns vão buscar nas missas e orações, é importante, mas não basta. Outros ainda, fazendo sacrifícios e rezando rosários, é importante, mas não basta.

Temos que dar um passo à frente e buscar o irmão. São João nos alerta: “Quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não enxerga (...) Quem ama a Deus, ame de igual forma a seu irmão!”.
Nunca o momento foi tão propício para dizer esse “SIM” que nos é solicitado com tanta paixão.

Quando chegar o tão esperado fim dessa jornada, que aguardamos mais “que as sentinelas pelo romper da aurora”, podemos dizer que foi uma “jornada transformadora”, vamos buscar Deus, pois somos capazes e vamos buscar nossos irmãos, pois somos filhos do mesmo Pai.

Amém!