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o sol ainda estava frio, chegavam na 83 a Ângela e sua família, traziam consigo
a Aines. Com grande alegria e carinho eram recebidas pela Aila e Altair. Sabiam
que o dia era diferente.
Logo
depois, junto com sua família, chegava o Arino. Já era uma festa quando lá vem a
Araíres, também com a família completa. E chego eu, toco a campainha, e sou
recebido com uma felicidade que “contagia”; meus netos entram correndo, e seus
pais atrás deles.
A
campainha não para de tocar, chegam o Airton e toda sua turma. Antes de
fecharmos o portão, aproxima-se o José Airles, trazendo consigo, os filhos, os
netos e os bisnetos.
Espalhados
pela casa louvávamos de alegria, a felicidade estava nos nossos rostos. Algumas
lágrimas não se contiveram. Uns na sala, outros na cozinha, alguns na varanda,
tomamos a 83 por completo.
E
a campainha toca mais uma vez, que grande e bela surpresa. Era a Aglair e a
Lúcia com seus familiares. Não sei se elas subiram os degraus ou fomos nós que
descemos. Só sei que tinha tanta beleza em cada gesto, tanto significado em
cada abraço, tanta ternura em cada sorriso.
Essa
gente toda reunida e com essa felicidade, já não cabíamos na 83.
E
foi aí, que a Aila e a Altair gritaram (ou profetizaram?):
-
Abram os portões.
Fomos
à rua. Invadimos o asfalto, e logo as pessoas começaram a descer dos seus
apartamentos e se juntaram a nós.
Um
só corpo...
Não
sei de que edifício nem andar, mas saiu uma voz que dizia:
-
Deus é Pai!
-
Sim, somos todos irmãos, foi um coro só.
Os
pessoas que trafegavam na historiador Raimundo Girão, estacionaram seus carros
e se juntaram a nós. Mais e mais veículos eram abandonados nas ruas e avenidas
e mais pessoas se faziam irmãos. Dos ônibus desciam verdadeiras multidões.
As
pessoas se levantaram dos bancos das praças, saíram debaixo das marquises,
deixaram as esquinas e foram para nosso meio.
Esvaziaram
as penitenciárias, desocuparam as delegacias, varremos o medo, ninguém era cativo
de ninguém, fazíamos servos para sermos livres.
Tomamos
o aterro de Iracema, a praia toda, e pra lá desciam pessoas de todos os lugares. Contavam-nos que
os bairros estavam se juntando a nós. Não mais tinham periferias, a cidade era
uma só, extraordinariamente única, sem divisões. Vinham notícias de caravanas
chegando do interior.
Uma
multidão sem fim, invadindo todas as ruas, avenidas e praças, reunida por um
amor que se afastara, e que agora cheia de fé, viu-se contemplando a glória de Deus.
A
cidade toda se fazia um só corpo e um só espírito.
Gritava
louvores, hosanas e aleluias!
Naquele
momento em que gritávamos, ELE nos
escutou!
Uma
chuva fina começou a cair, e uma voz vinda do céu, dizia:
- A Paz Esteja Convosco!
Foi
quando acordei, com um sorriso e uma lágrima escorrendo, respondi:
- ELE está no meio de nós.
Feliz,
fui novamente dormir.