PREFÁCIO
D |
epois de uma exaustiva pesquisa de horas, dias de conversas, depoimentos, entrevistas: a verdade prevaleceu. Por isso, contarei o que realmente aconteceu.
Eis a história.
Viagem palavra mágica, que mexe com nosso imaginário, que passam os dias esperando para aproveitá-la. A primeira sensação que sentimos é de alegria, depois vem uma sensação de ansiedade, angústia, noite mal dormida, inteiramente fascinada pela aventura.
Esta viagem seria a realização plena, o máximo para a Lucinha e a Nenen: conhecer Ipueira das Pedras. Era o descobrimento de um novo horizonte, o resultado desta experiência iria construir raízes profundas nelas, passaria diante dos olhos com um filme.
Mamãe no seu esmero até exagerado, nas suas preocupações, cuidadosamente, tinha preparado tudo, tintim por tintim, nos trinques, nada faltaria àquelas pequenas, quer no visual, quer no bem estar. Pois seria uma longa viagem. Teriam que percorrer 140 km de ida e volta, debaixo do sol escaldante do sertão cearense.
A burra Carioca estava selada, com um alforje marca Dior, de um lado, as bebidas em garrafas térmicas: água mineral, café, leite e coca cola e, do outro lado, as guloseimas: toddynho, yakute, pão de forma, maionese e ketchup.
Papai colocara sobre a sela um coxim grande – feito a mão pela Altair – que se estendia até a garupa, para maior conforto delas.
Chegara a hora da partida, as duas estavam tão bonitinhas e charmosas: cabelos penteados tipo Maria Chiquinha, vestindo Calven Kein Jeans, com lindos tênis Nike coloridos e a pele brilhando por causa do protetor solar da Avon. Papai estava elegantíssimo: chapéu, bota cano longo da Couro Fino e um conjunto de calça e camisa azuis da De Rossi.
Depois da Mamãe apresentar as últimas recomendações : Seu Lino não se esqueça do celular para dar notícias e passe o repelente Baygon toda noite nas meninas.
A Carioca toda faceira saiu numa espécie de marcha/galope. Papai na sua calma, fumando seu Marlboro e as duas cantando Yesterday. Não faltaram sorrisos, lagrimas, by by e as últimas recomendações da Mamãe.
A primeira parada para descanso foi no Parque Paraíso das Araras, vestidas de biquínis de bolinhas amarelinhas da Safári. Já bronzeadas, fizeram a festa no córrego e suas cachoeiras, terminando com uma baita merenda – somente faltou o pão de milho da 83 – numa relva verdejante.
Prosseguindo a viagem, almoçaram e dormiram no Hotel La Maison e cedinho chegaram à cidade de Canindé.
Papai aproveitou para mostrar os pontos turísticos: Catedral e estátua de São Francisco, Casa dos Milagres, Praça dos Romeiros. Comeram uma pizza na D’Itália e seguiram viagem. Nenen, num arroubo de coragem e ímpeto, resolveu acompanhar a pé durante vários quilômetros o galope da Carioca.
Finalmente, Ipueira das Pedras. Tiveram uma recepção pomposa e calorosa na chegada, em frente ao jardim florido da mansão, estavam o Tio Rufino, Tia Elionora, primo Cleviro, o administrador da fazenda, Seu Baiano – velho conhecido da Aila – e os vaqueiros vestidos de gibões tipo Luiz Gonzaga. Abraços, beijos e boas vindas.
À noite, depois de um lauto jantar, Papai, Tio Rufino e Cleviro foram assistir o Jornal Nacional numa 42 polegadas, sob o luar do sertão e os piscas piscas das estrelas clareando o jardim de verão, parecia até um dia de sol. Tia Elionora, Lucinha e Nenen conversavam alegremente.
Hora de dormir. Subiram para a suíte preparada especialmente para elas, decorada em tom róseo, com ar condicionado e chuveiro de água quente. Com o cantar das asas brancas e o famoso papagaio chamando seus nomes, acordaram para a viagem de regresso, pois os compromissos do Papai não permitiriam passar mais dias. Nessa hora há uma mistura de sentimentos, a tristeza da partida e a alegria da volta.
O ápice, fechando com chave de ouro, a surpresa do Tio Rufino para sua querida afilhada, o presente de uma vaquinha branca de nome Cambraia. Lucinha não pode conter as lágrimas e, na sua alegria de criança, resolveu voltar para Soledade montada na sua vaquinha, provocando uma gargalhada geral.
A volta contarei em outra ocasião.
Arino Bastos