quarta-feira, 31 de julho de 2019

Nunca de mãos vazias



E
 depois de tanto tempo...

Quase um século se foi...

Hoje, passamos por momentos delicados.

A enfermidade da Dela se agrava. Não dá trégua.

São nessas horas, são nessas horas... que a Luz vence.

Sempre foram doadoras, e suas mãos nunca ficaram vazias, pois sempre tinha um de nós para receber.

E agora, mais do que nunca, suas mãos nunca mais ficarão vazias, pois se completam.

Acredito que Deus preparou esse momento pra elas. Acredito que Deus sempre tomou conta delas, e hoje, Ele mostra que elas são umas vencedoras e preferidas Dele.

Naquela casa, pra elas, em alguns momentos, foi abrigo; noutros, um refúgio; em outros ainda, um esconderijo, mas hoje, é um lar.  Uma fortaleza abençoada por Ele.

Momentos houve que andavam em caminhos paralelos, acredito que caminhos iluminados que não se cruzavam.

Nesses caminhos ficaram sementes, algumas entre lágrimas, que germinaram e criaram raízes e essas raízes se cruzaram, atravessaram de um lado a outro e se encontraram, e se entrelaçaram, sem que elas percebessem estavam unidas pelo bem, pelo imenso semeado.

Estão, enfim, unidas. Uma com todo carinho, e uma força que não sei de onde vem, cuidando da outra. A outra com um olhar de agradecida por ser cuidada.

Não digo que seja agradável vê-las assim, posto que nada na dor é afável, mas suaviza, e de certa forma, anima-nos, a união delas.

Bom domingo!


ME CALO...



I
CC, os médicos, as enfermeiras, os atendentes, os pacientes e seus familiares.

ICC, os corredores, a sala de espera, o atendimento, a sala de consulta e o cubículo de aplicação.

ICC, Ela!

Hoje, foi um dia duro para nossa irmã. Muito duro.

Ontem também foi um dia duro. Muito duro.

A semana vem pesada.

Dores!

Muitas consultas, exames diversos.

Eu admito, contudo, e admito de forma cabal, que não tenho competência de representar toda sua peregrinação. Difícil falar de dor.

Eu não captei, exatamente isso, da mesma forma também não consigo captar para vocês a tristeza e a agonia que sucede a cada momento, envolvendo tantos e variados sentimentos. Difícil falar de sofrimento.

Hoje, nada direi, mas emudeço, que é melhor que qualquer tentativa de dizer o que não se consegue dizer. Impraticável – ou me falta domínio – explicar a expressão de seus gestos. Difícil falar de agonia.

Quem pode dizer o que se passa aqui. Parafraseando algum alemão, como é que letras frias de um teclado do celular conseguirão alcançar e refletir essa celestial floração do espírito? Difícil falar de dor.

Emudeço, mesmo que não possa deixar de observar que tudo nessa nossa irmã é digno de pena e orgulho, de compaixão e altivez, de misericórdia e bravura. Combate ela o bom combate.

Não contarei como, enfim, Ela, nossa primogênita, passou por consultas e clínicas, caminhou por esses corredores, de sala em sala, em busca de conforto, de alívio e um pouco de consolação.

Descrevo apenas que ela não esta só nessa terapia, têm alguns senhores e algumas senhoras que fazem o mesmo tratamento, não diria que sejam íntimos, posso afirmar simplesmente que partilham da mesma dor e da mesma busca, são silenciosamente irmãos entre si.

Já se faz desnecessário afirmar que minha escrita é anêmica para pintar um quadro à altura do que se passa aqui com esses irmãos íntimos e silenciosos. Íntimos sim, emendo o que afirmei acima, direi sim, que são íntimos.

Além do mais como, questiono, como posso eu, um simples acompanhante das desventuras dessa gente conseguir dizer para vocês o que se passa nesse lugar?

Isto posto, como já tive a oportunidade de lhes esclarecer, reproduzo a modéstia do poeta: “falta-me pena e por esta razão me calo”.

Boa tarde a todos!


quinta-feira, 4 de julho de 2019

03.07.19


1
3h45m, na sala, esperávamos!

Em seus lábios, de quando em quando, esboçava um sorriso e, de imediato, um suspiro, todavia este era doloroso, enquanto aquele pedia paz.

Solicitava... quase que exigia... Paz!

Quietude, serenidade, sossego, tudo enfim.

Isso não significava que ela escolhia ficar sempre sozinha, que preferia o silêncio constante, pois sendo assim, era ainda mais triste, lhe trazia solidão, que é um “bicho grande e pisa forte”... e machuca.

Sei que todos nós precisamos de momentos só nossos, acredito que seja até necessário, espaços somente nossos, quem sabe que todos disso careçam.

Isso é um fato, mas quando a circunferência de seu mundo está se contraindo e o quotidiano desacelerava a cada fração de segundo, as coisas não são tão simples assim.
Compliquei?

Estou eu, segundo meu costume, embaraçando; e vocês, com toda razão, acharem que exagero.

Voltemos ao ICC, da consulta à aplicação, lá vai ela.

Lá dentro é aquele momento que se pede que desapareça – afasta de mim esse cálice– que não aconteça, ali onde o incômodo se faz lamento, ali onde se manifesta aquilo que se quer fugir

O corpo fala.

E lá fora, no corredor, eu via tudo, pois vejam vocês, parece que em determinado período o ouvido também enxerga.

O corpo enxerga.

Fico vendo... a espera do término. E por fim, vou ao seu encontro.

E aí ela, a Aila, devagarinho vem, e vem, e vem, e vem.

E vem o inesperado, aparece ela como que refletisse uma espécie de luz própria, para que vocês possam entender esse momento, é como se um brilho surgisse de repente na sombra.

“Que seja a Tua vontade e não a minha.”

E assim, voltamos à 83.

Boa tarde para todos!