sábado, 31 de março de 2012

DOMINGO DE RAMOS

01.04.2012 – Mc 14,1-15,47
A
 Liturgia deste último domingo da Quaresma leva-nos a refletir sobre esse Deus, que veio ao nosso encontro e partilhou a nossa humanidade.

A primeira leitura apresenta-nos uma figura coletiva, que fala do seu chamamento por Deus para uma missão. Esta se concretiza no anúncio da Palavra, que pode gerar sofrimento e dor, mas com a força de Deus, ela se torna maior que a perseguição e por isso “não será confundida”.

Na segunda leitura nós vemos um apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida, que Paulo faz a todos os cristãos, tomando como exemplo Cristo, que fez de sua vida um dom para todos. Esse caminho não conduz ao fracasso, mas à glória, à vida plena.

Este é o apelo,
que se apresenta a todos nós,
nestes últimos dias de caminhada para a Páscoa.

O Evangelho de hoje é o relato da Paixão de Jesus. É uma catequese, que vem mostrar a trajetória do Filho de Deus, que veio disposto a cumprir o projeto do Pai, mesmo passando pela cruz.

O evangelista pretende mostrar, que Jesus é o Messias, o Filho de Deus.

Jesus não escolheu morrer. Isto aconteceu, porque seu projeto entrou em choque com o egoísmo e a opressão daqueles que dominavam o mundo na época. As autoridades civis e religiosas sentiram ameaçado seu poder, seus privilégios, seus domínios. A morte de Jesus foi a consequência lógica do anúncio do Reino.

Contemplar a cruz de Jesus, hoje significa solidarizar-se com os que sofrem violência, exploração, exclusão e privação. Seguir Jesus é denunciar e assumir a mesma atitude de defesa que Ele fez, mesmo correndo risco e perdendo regalias.

Enfim, defender os crucificados de hoje, na certeza de que o amor gera na nossa carne o dinamismo da ressurreição.

Anaíres Lino


sexta-feira, 30 de março de 2012

Qualquer coisa!

J
á estava para falar da casa 207, que firme e forte varou a semana, coloquei o cotovelo na janela e já estava revendo toda uma época quando percebi que já não estava mais ali... como na vida tudo e substituível, mudei de assunto, parti para outra.. vamos lá...

Todos dias bem cedo passeio com o Tuco. Aqui uma explicação, Tuco é o cachorro da minha filha e como o meu neto está com alergia, o primeiro a pular fora foi coitado e lógico para cá, porque a casa dos pais é o depósito natural das coisas dos filhos quando estes já não mais as querem, mas não o suficiente para joga-las fora.

Casa dos pais é uma espécie de limbo das coisas antes de irem para o lixo. É como a geladeira onde colocamos tudo que sobrou da última refeição antes irem para o lixo. Custei a entender este mecanismo até que descobri, não nos desfazemos no primeiro momento porque ainda estão boas, aí colocamos na geladeira para que fiquem velhas e aí nos desfazemos sem nenhum remorso.

Deixam de ser desperdício para se tornarem questão de saúde. Quer dizer, geladeira não só conserva, ela também torna as coisas imprestáveis, suaviza responsabilidade...

Bem, mas estava passeando com o Tuco, e isto me dá oportunidade de naquela hora, em que a cidade começa a despertar, poder ver como é linda a minha rua. Sem trânsito pode-se ver aquelas arvores imensas, centenárias, se juntando lá em cima formando uma belíssima alameda, pena que aprisionadas por horríveis canteiros de cimento, mas resistem, lindas com o sol tentado penetrar em suas folhas, formando um espetáculo estupendo... E começam a passar por mim, o entregador de jornal, algumas bicicletas, pessoas vestidas para caminhar, porteiros varrendo as calçadas. A cidade vai se acelerando, daqui a pouco o barulho, o trânsito e já não se pode continuar nesta contemplação... hora de voltar.

Ana Lúcia Lino


Observação: Aquele senhor, que no começo do blog me emocionou com seu comentário, desapareceu, será que se desinteressou do blog ou gastei toda minha capacidade naquele texto... Aguardo explicação e tomara que seja uma terceira vertente...
Ana Lucia Lino


O CORPO FALA!


Q
Quando nos sentimos magoados, ou até mesmo, impotentes para resolver os inúmeros problemas de nosso quotidiano, são aqueles momentos que nosso coração quer lacrimejar, quer soluçar, chorar mesmo. Como ele não pode, o corpo fala pelo resfriado.

Quando nos sentimos impedidos de responder uma injustiça, quando nos sentidos entalados, quando não conseguimos extravazar as angústias, quando isso acontece, o corpo fala, arde nossa garganta e as amídalas inflamam.

Quando não conseguimos colocar pra fora toda raiva que sentimos, quando engolimos as iniquidades, quando a revolta fica presa, o nosso corpo fala. O estômago queima e a úlcera aparece.

Quando nos sentimos sós, quando pensamos que todos fogem de nós, quando a solidão toma conta de nossos dias, o corpo fala. Somos arrastados para o diabetes.

Quando nada nos satisfaz, ninguém nos agrada, coisa nenhuma nos traz alegria, o corpo fala. Engordamos, comemos sem limite e sem horário, todo alimento nos satisfaz, qualquer comida nos agrada e toda alegria vem do paladar.

Quando nos foge a certeza, quando perdemos a confiança e a dúvida é uma constante em nossas vidas, o corpo fala. Vem a dor de cabeça, nos chega as enxaquecas e nossos dias se resumem em remédios.

Quando ouvimos nosso corpo, sentimos nossa alma, alimentamos nossa fé, a vida parece bem mais fácil.


segunda-feira, 26 de março de 2012

A CASA 207

E
stava devendo esta recordação.

Esta casa de estilo antigo, como era a maioria naquela época, herança da época colonial, ficava localizada ao lado poente, na rua XV de Novembro, em Baturité. À tarde, a gente recebia o sol na cara, mas era acolhedora.

Era uma habitação com uma porta e duas janelas de frente. Na entrada tinha uma saleta que à noite se transformava em quarto. Ao lado, uma sala que, pelo costume da época, se denominava “sala de visita”, decorada  (gostaram da palavra?) com umas cadeiras de madeira, com assento de palhinha.

Eram os únicos vãos forrados com pano caiado. Seguia um corredor, tendo ao lado os dois quartos. Um do casal e o outro das senhoritas juramentadas. Os homens e a miuçalha se espalhavam pelo resta da casa. Seguia a grande sala de jantar e ao lado uma enorme dispensa (não sei pra que), que era transformada em quarto de empregada.  Vinha a cozinha com um fogão de lenha e um forno de assar bolo, que nunca foi utilizado.  Uma área ao lado, um pequeno quintal e, finalmente,  o banheiro e a  sentina  (o nome na época era este).

A esquerda tinha como vizinho o Sr. Salomão, casado, sem filho.  Adotava um garoto de nome Carlos. Era dono de um caminhão marca Fargo que fazia transporte de mercadoria para a vizinhança. À direita era um casarão que permanecia sempre de portas serradas. Nele morava o Sr. Pedro Torres, que tinha uma criada de nome Maria Pretinha, de boa reputação, prestativa e de humildade franciscana.

O Sr. Pedro era alcunhado de  Pedroca. Homem sério, honesto e educado. Trabalhava no Banco Comercial como contador (naquele tempo conhecido como Guarda-Livros). Foi o primeiro “namorado” da Anjoca  (romance que  mamãe não aprovava pela diferença de idade), mas o negócio “rolou” por algum tempo. Nossa família  indo morar em Fortaleza o romance se desfez. Seu Pedroca morreu ainda novo, solteiro. Maria Pretinha mudou-se para Fortaleza, casou e constituiu numerosa família.

Este casarão nos deu abrigo por duas décadas, onde ainda hoje a ternura se esconde em cada canto e as saudades afluem a cada passo,  guardando tantas histórias como esta, que numa verve inspiradora juntaria em um romance. São recordações que se não se arrancam como tiririca e nem vira sucata em nossa memória. O tempo vai passando e elas vão ficando, ora machucando, ora nos dando alegria de vivenciá-las.

São pessoas e  coisas inesquecíveis.


ZédoLino

sábado, 24 de março de 2012

5º DOMINGO DA QUARESMA


25.03.2012 – Jo 12,20-33

N
a primeira leitura está clara a preocupação de Deus com a realização plena do homem. E acredita que, com o coração transformado, este homem será capaz de fazer escolhas corretas e se encaminhar para a verdadeira felicidade.

A Quaresma é um tempo propício para acolher o dom de Deus e deixar-nos transformar por Ele.

A carta aos hebreus mostra que Jesus, apesar de ser Filho de Deus, sofreu chorou, sentiu medo, como qualquer homem. Por isso Ele é capaz de compreender a fragilidade e a fraqueza humana. E a partir desta compreensão dá-lhe remédio.

Ele manteve uma adesão incondicional ao Pai e mostra aos homens que o caminho da salvação está na comunhão com Deus.

O Evangelho de hoje faz uma bela catequese do que significa “ver Jesus”.

Quem quiser a salvação deve buscar Jesus. Ele veio trazer uma libertação de alcance universal, destinada a todos os homens.

O texto mostra nossa responsabilidade missionária, pois foram seus discípulos (nós hoje), em comunidade (Felipe e André), que encaminhou os gregos (os afastados), para Jesus.

No horizonte próximo de Jesus está a cruz, como consequência de seu confronto com as forças da morte, que dominavam o mundo.

Ele está consciente de que vai morrer, mas na cruz se manifestará a glória do Filho do Homem.

Com sua morte Ele nos ensina o que significa o amor até ao extremo.

Anaíres Lino


sexta-feira, 23 de março de 2012

Na Secretaria do Município


S
eu João, um dia desses, viu meu irmãozinho de rua falando da dor de barriga dele. A minha foi pior.

- Noutro dia você fala, respondi desinteressado.

- Mas é ligeiro, só tomo um minutinho do senhor.

- Vá lá.

Estávamos, todos nós, numa reunião na Secretaria do Município. Era um salão grande, cheio de janelas. Tinha alguns moradores de rua, a Secretária do Município, seus assessores e um grande número de representantes dessas entidades que trabalham por nossa causa.

A reunião, que estava marcada para começar às 14:00 horas, somente foi iniciar lá pras quatro da tarde. Eu já cheguei lá com a barriga não muito boa e começaram a servir “um tal” de chocolate quente. Os primeiros copos que tomei até que estavam “morninho”, mas depois o bicho era frio. Mas, não me fiz de rogado, continuei tomando. Quando digo que continuei tomando, eu quero dizer que tomei a garrafa todinha.

Quando a reunião enfim começou, a barriga também começou a me dizer que as coisas não estavam bem lá por baixo. O “morninho” começou a fazer efeito. A dorzinha ia aumentando e algo me dizia que aquilo não ia ficar só na dorzinha. Aquelas pontadas eram sinais de que eu precisava me preocupar. Pois ia ter, digamos assim, derramamento...

Saí devagarzinho do salão e fui à procura de um banheiro, encontrei um, mas com a porta fechada. Esperei um pouco e saiu um senhor dizendo que ele era o guarda noturno e veio tirar o plantão de um colega, mas voltaria às nove horas e não podia deixar a chave com ninguém. Argumentei que estava numa situação periclitante e não podia esperar mais. Ele disse que o problema não era dele e que esperasse pelo responsável, que tinha saído, mas voltaria logo.

Retornei à reunião, dei a volta pelo oitão e fiquei assistindo pelo lado de fora da janela. Meus colegas, que não sabiam de nada, ficavam dando sinais para que eu entrasse, e com a mão eu dizia que ia já.

Ia já? Que nada, a hora chegou e o responsável pela chave não chegou. Como não tinha mais nada o que fazer, fiquei ali na janela, assistindo a reunião e lá embaixo só controlando o barulho e o derramamento.

Quem me via pela janela, da cintura pra cima, não sabia como eu estava da cintura pra baixo. Quando eu percebi que eles não compreendiam o que estava acontecendo comigo, relaxei. Continuei assistindo a reunião e até pergunta eu fiz.

Como estava com o olho na reunião e o outro no responsável pela chave, vi quando este chegou, abriu a porta do banheiro e saiu. Corri e entrei imediatamente no banheiro, era uma espécie de depósito e num dos cantos tinha uns cabides e num desses cabides, a farda do guarda noturno. Não tive dúvida, tomei um banho, deixei minha roupa toda suja e vesti a farda do guarda noturno, inclusive o sapato com meia, diga-se.

Saí na maior moral, dei boa noite pras pessoas da Secretaria, cheguei à calçada, peguei um ônibus, não paguei a passagem, era autoridade. Desci no centro e tratei logo de mudar de roupa.

Seu João, naquela Secretaria eu não piso mais.

- E a reunião? Perguntei.

- Foi uma m...


quinta-feira, 22 de março de 2012

e agora José...

P
assei o dia tentando ficar invisível, tentando que ninguém percebesse que eu existia, ficar no canto só esperando o tempo passar. Sabe aquelas coisas que você não quer fazer, mas que são inevitáveis, que lhe deixam no dilema entre o dever e a vontade de não mudar a sua vida, sair do seu esquema, o medo de não dar certo, enfrentar problemas... Essas coisas.

Parecia simples dizer um não, ou não aparecer, fingir de morta, olhar de paisagem, qualquer coisa seria válida nas circunstancias... Mas eu queria uma saída honrosa, sem mágoa e sem culpa... Uma solução mágica... Aquela que não existe nem na cabeça de quem não quer se comprometer. Quem sabe uma virose rápida ou uma dor de cabeça com hora para começar e terminar, sei lá... Alguma coisa tinha que acontecer e rápido.

O interessante é que enquanto vivia o drama da indecisão, o mundo não parecia dar à mínima, o elevador continuava subindo e descendo indiferente, os ônibus passando, as pessoas fechadas em si e eu neste emaranhado de fios, ideias, expectativas, mais engessada que árvore em calçada, me sentindo como na canção do Chico ''a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu''.

O tempo passando e eu fazendo tudo no piloto automático, aparentemente tranquila, mas voltando sempre ao mesmo ponto, ao mesmo tema sem solução visível.

Poderia alguém mudar, voltar atrás, eu poderia nem aparecer, mas este bendito senso de dever não ia deixar, ia ficar martelando. Uma topada, isso uma topada, amanhã estaria bem, mas hoje a dor, os analgésicos seriam impedimentos... não, não ia dar certo.

Enfim, chegou a noite, chegou a hora... nada aconteceu... melhor ir a reunião... quem sabe sentando na última cadeira... Nada, nada deu certo... fui eleita síndica... obrigada pelas orações.


Ana Lúcia Lino   

quarta-feira, 21 de março de 2012

Coisas da rua!


S
eu João, ontem foi um dia difícil.
Por que? Perguntei, distraído.
Vou lhe contar.
Estava chegando perto do BNB e me deu uma dor de barriga. Daquelas. Quando eu ouvi um barulho na barriga, pensei rápido, tenha calma. No segundo barulho, seguido do terceiro, falei logo, é agora.
Fui vagarosamente em direção ao guarda do banco, com aquele andar de quinze pras três, onde se mantém os joelhos juntos e somente as pernas se movimentam, e pedi para usar o banheiro.
- Pensa que aqui é casa de vagabundo. Respondeu-me, já me mandando sair.
Saí, mas não fui longe. Fiquei no jardim. No caminho, entre o guarda e o jardim, outro tumulto na barriga.  Me encostei debaixo da palmeira e esperei o pior.
E o pior veio. E veio com força. Aí seu João, a gente tá dominado. É lá embaixo quem manda. A gente é passageiro. Como eu não tinha saída, baixei as calças e pensei: Seja o que Deus quiser. E Deus quis com força. Pois a primeira “lapada” veio com tudo: de volume e barulho. Não um balhurim qualquer, mas daqueles que humilha.
Depois de cinco minutos naquela luta perdida, eu comecei a suar frio. O guarda se aproximou de mim e perguntou o que estava acontecendo. Perguntou por perguntar, o cheiro já me denunciava. Não esperou nem minha resposta e já foi se afastando com a mão no rosto e resmungando.
- O cabra tá podre.
E tava mesmo, seu João.
Quando achei que não podia piorar, piorou. Lembra-se da Mazezinha, aquela que eu disse que tava tendo um caso. Veio correndo e gritando meu nome, mas quando me viu naquela situação, passou correndo como se não me conhecesse.
E eu ali, de cócoras, com as calças arriadas, a blusa escondendo minhas intimidades e esperando que aquilo tivesse fim. Entre barulhos e gemidos, e muitos gritos do guarda, acabou.
O guarda me chamou, lamentando meu estado, disse que eu podia ir tomar um banho no banheiro dele, mas que nunca mais aparecesse por lá.
Tomei um banho, sai do banco, fui até a calçada, levantei os dois braços esticados e falei:
- Isso é que é vida. 

terça-feira, 20 de março de 2012

O SENHOR fez você!


C
erto dia um homem andava numa rua movimentada e, quando viu uma família deitada debaixo de uma marquise, comentou consigo:

- Como pode Deus permitir que isso aconteça!

Ficou muito revoltado com aquela situação.

Numa noite, esse mesmo homem jantava num restaurante com sua família e observou que dois jovens maltrapilhos, na mesma idade de seus filhos, mendigavam na calçada, sussurrou pra si:

- Deus não vê isso? Nada faz!

Aquele estado das pessoas não lhe deixava tranquilo.

Quando parou seu carro num cruzamento, uma senhora com uma criança no colo se aproximaram dele pedindo uns trocados e ele mais uma vez lamentou:

- Por que Deus não faz nada e permite que isso aconteça?

Nesse momento, ele ouviu uma voz:

- Eu já fiz. Eu fiz VOCÊ.


sábado, 17 de março de 2012

4º DOMINGO DAQUARESMA

18.03.2012 – Jo 3,14-21



A primeira leitura deixa margem para uma interpretação tendo como pano de fundo a “Teologia da Retribuição”, ou seja, a fidelidade a Deus é compensada com benção e a infidelidade com castigo.



Isto é perigoso porque pode sugeri a idéia de um Deus comerciante. Fiquemos atentos e nos encaminhemos para uma reflexão de que: quando o homem prescinde de Deus está a construir um futuro marcado pela dor e pela morte.



Podemos ainda aprender o sentido da esperança, quando Deus oferece a seu povo a oportunidade de um novo começo.



Quaresma é isto: Deus nos convidando a embarcar na nova aventura de uma nova vida.



 Na segunda leitura temos uma síntese da Teologia Paulina, uma reflexão do papel de Cristo na salvação do homem. Este não tem condição de sozinho sair da sua condição de pecado.



A salvação é dom gratuito de Deus. As boas obras feitas pelo homem não são condição de salvação, mas o resultado da graça de Deus atuando em nós. Somos instrumentos frágeis através dos quais Deus manifesta ao mundo e aos homens seu amor.



No Evangelho, vemos que Deus oferece ao homem a salvação e este faz a sua escolha. A salvação ou a condenação não são prêmio ou castigo de Deus ao homem pelo seu bom ou mau comportamento, mas o resultado da escolha livre do homem. Assim, a responsabilidade pela vida ou morte definitiva não recai sobre Deus, mas sobre o próprio homem.



Enfim, Deus nos ama tanto que nos oferece uma proposta de salvação, que nunca foi retirada,permanece aberta a espera de nossa resposta.



Estamos a caminho da Páscoa, somos convidados à conversão.



Anaíres Lino

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ocupado... e daí...

S
enhor Editor:

Quando criou o “Mel Com Farinha”, plantou sonhos em nossos corações, você assumiu mais que uma obrigação, você assumiu um dever.

E com este pensamento, tenho certeza que em nome dos 17 leitores, que venho lembrar suas implícitas promessas e de nossas expectativas.

Quando pela manhã e à tarde acesso o blog, esperando encontrar alguma novidade, alguma palavra, mesmo um texto ruim e encontro um velho artigo amarelado postado há algum tempo e que envergonhado, quase pedindo desculpas tenta se esconder atrás da foto, lembro o compromisso e sem alternativa fecho o note e espero... E uma decepção maior, pior do que faltar milharina na 83...

Não adianta se esconder embaixo de um cobertor que torna inacessível o computador. Não adianta lembrar a Pastoral dos Moradores de Rua, a 83, a mulher, os filhos, o neto, os remédios e as cuidadoras da mamãe, a sogra, a casa em reforma, o Pacheco, o seu Ivan, as compras, a coluna, os médicos, os enfartes e a recuperações dos irmãos, etc. etc... Tudo isso não justifica os hiatos a que estamos sujeitos ultimamente. Só falta agora inventar viagens.

Não queremos que o nosso blog se transforme de “Mel Com Farinha” para “Tijolo Com Areia”, mas se por acaso isto acontecer, que não seja solido, que seja passageiro, que volte rápido o nosso bom blog, com seus assuntos às vezes sérios demais, às vezes bobos demais, mas igualmente importantes para nos, do jeitinho que gostamos.

Enfim Sr. Editor, um grande abraço e .....vida longa ao BLOG.

Ana Lucia Lino  

terça-feira, 13 de março de 2012

A MORADA NOSSA DE CADA DIA

      
É
 bom escrever, mesmo que esta escrita venha salteada, descombinada e sem continuidade, deixando somente o pensamento flutuar, assim como um rio que corre em seu leito, indiferente as curvas, as retas ou cachoeiras que surgem a sua frente.

Falemos então de que?

Da  casa própria que é o sonho de toda pessoa. Quando se constitui uma família o primeiro objetivo que vem à mente e à frente  é adquirir sua casa. A pessoa enfrenta doença  com resignação, o desemprego com certo altruísmo, muitos desenganos com esperança, mas nunca se conforma em não morar em seu próprio “chão”.

Pode ter uma ótima condição financeira para pagar aluguel, mas o que gosta mesmo é morar  “debaixo de suas telhas”, nem que seja uma casinha modesta,  daquelas de taipa, tão comum no sertão nordestino. O que vale é chegar em casa, armar sua “tipoia” e saber que aquelas quatro paredes são suas.

Chegar orgulhosamente, até com certa soberba, e  dizer para os amigos: - reformando minha casa. Vou fazer uma garagem pro “calambequinho”  que comprei. Uma puxadinha ali para a filha que debutou.  Vou mudar o piso de cimento para cerâmica. E assim por diante.

A casa própria dar status. Dar segurança. A pessoa “enche a boca” e diz: - eu moro no que é meu.  Ao adquirir sua casa, a pessoa muda a percepção da vida. É como construir novos horizontes e enxergar a vida com mais segurança e certeza de um futuro sem tantos dissabores.  É antes de tudo, uma das maiores vitória da vida.

Nós. Estes onze rebentos, que dona Enedina e seu Lino criaram, pensam que largaram tudo. Que cada um seguindo seu próprio destino, desgarrando da casa onde os viu cada um nascer e crescer, criando novos ideais por este mundo afora, é “dono do seu nariz”.

Ledo engano.

Apenas mudaram de rancho, mas ainda gravitam em torno do “Plenário da 83”.  Lá está o sol que parece embaciado, mas que continua iluminando a todos, dando amor quase anonimamente.  Transmitindo calor humano. Unindo, fortalecendo e libertando. Fazendo-nos imaginar, recordar e reviver. Irradiando paz e amor.  Sendo a órbita onde giram “as conversas fiadas”, os “pegas amistosas”, os “lero-leros”. Onde todos se abraçam e se confraternizam. É o lar da amizade e do bem-querer. Esta casa constituiu uma etapa.

E as outras?

Tudo tem começo, meio e fim. Neste ensaio, respeitando as opiniões, digo que o meio foi  a casa 207, na Rua 15 de Novembro, em Baturité. Aquele casarão antigo onde nos abrigou no mormaço da tarde e  nas horas frias das madrugadas...

Bem,  meu espaço acabou e acho que a paciência de vocês também. Na próxima semana falarei desta moradia onde ficaram tantas coisas enraizadas e profundas que marcaram nossas vidas.

Até lá.

ZédoLino
  

segunda-feira, 12 de março de 2012

Tempo Quaresmal: tempo de agir.

V
ocês sabiam que a Anaíres e a Ângela são agentes pastorais?

Não? Pois são.

São as novas voluntárias da Pastoral do Povo da Rua.  Já conquistaram os Moradores em Situação de Rua. Ou já foram conquistadas?

Estão indo toda quinta feira, de duas às cinco da tarde, à Casa Dom Luciano Mendes.

Mortas de empolgadas, não se cansam de falar bem de casa e como está fazendo bem pra elas essa nova maneira de servir o próximo.

A Ângela já anda batendo grande papo com o Pedro e a Anaíres já se considera amiga da Joana Darc.

Assim são elas e assim são eles. Gente boa, nem superiores, nem inferiores, iguais.

São passos a se caminhar no tempo quaresmal: em direção ao próximo com dedicação e carinho. Um caminho que se faz com eles e no meio deles. Se respeitando e se doando, pois amar é dar-se. Tudo em nome Dele.

Esses são alguns princípios desse tempo: ir em direção ao outro com carinho, fazendo-se ser recebido dessa mesma maneira; um encontro que seja uma semente de boa vontade para gerar frutos que fortifique a fé no Reino de Deus; e finalmente, que tudo seja feito em nome dAquele que nos dá força.

Creio que seja isso que elas estão fazendo.

A propósito, a pastoral precisa de mais gente, não perca tempo... tempo...tempo...tempo...



sábado, 10 de março de 2012

3º DOMINGO DA QUARESMA

11.03.2012 – Jo 2,13-25

N
a primeira leitura encontramos o ponto central da Aliança que Deus fez com seu povo. Indica e define o caminho que Israel deve percorrer, para ser o Povo de Deus.

 No Decálogo, quatro mandamentos  fundamentam a vida do povo em relação a Deus e seis diz respeito às relações comunitárias. A questão fundamental não é simplesmente cumprir regras, mas construir a própria felicidade.

Paulo se esforça para nos mostrar que não podemos compreender Jesus à luz da lógica humana, pois a essência da mensagem cristã está na “loucura da cruz”.

A felicidade, a realização, a vida plena decididamente não passa pelo poder, pela autoridade, pela riqueza, mas no amor levado às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.

Jesus, no Evangelho, dá um “basta” àqueles que ontem (e hoje) usam o nome de Deus para justificar exploração, miséria e injustiça.

Neste tempo de Quaresma, somos convidados a olhar para Jesus e descobrir nEle o caminho da vida nova.

A nossa Igreja, se constitui verdadeiramente Templo que mostra o rosto terno de Deus?


Anaíres Lino

quinta-feira, 8 de março de 2012

A hora é agora...


P
erdemos tanto tempo deixando de fazer o que queremos, o que gostamos, imobilizados pelo julgamentos dos outros e nossas próprias exigências. Quedamos atados por firulas, pequenas coisas que frequentemente só existem nas nossas cabeças.

Sacudamos a vida deixando cair o que e inútil, o que tolhe, o que afoga, o que sufoca e deixemos aflorar o gesto contido, a palavra calada, a lágrima congelada, o riso abortado.

O tempo é hoje, é agora...

Siga o coração, não importa o que sobrevenha a isto, siga em frente, desperte o seu sonho, solte um balão, libere os justos desejos, sente na calçada, veja o arco-íris, caminhe na chuva, grite uma frase de amor, ouça a brisa, cante uma canção.

Seu tempo é agora...

Não oprima o peito, não fuja do confronto, procure outro caminho, volte se errou, pare e veja as estrelas, insista no que gosta, não frei os impulsos, resolva o que é pendente, grite a liberdade.

A hora é agora...

Dirija sentindo o vento, sinta o cheiro da terra, cultive uma flor – para você, para os outros – leia um livro, assista um filme, balance na rede, pense no que pode ser feito, melhore você, melhore o mundo.

O tempo é agora...

Abrace um idoso, afague uma criança, sorria para o vizinho, dê bom dia a todos que encontrar, agradeça, a vida é para curtir e não só no face.

A hora é essa, o tempo é agora...

Não adie o perdão, não engula a emoção, existe a dor, o choro, a angústia, mas existe o sorriso, a comoção, o amor. Viva, viva sem vergonha de sentir, de ser feliz, sem arrependimentos, sem mágoas, sem soluços, sem dor no peito.

Durma com o corpo cansado e a mente leve, se o amanhã vier é um novo estímulo para continuar remando, com força, com persistência, com intensidade, com todas as forças, com todo amor que se tem, como uma dádiva, como um acontecimento divino.

O tempo passa e a hora é agora...

Ana Lúcia Lino


terça-feira, 6 de março de 2012

A SAGA DE UMA HEROÍNA – 5ª Parte

T
omavam pílulas de Mattos
Pra “ limpar” o organismo
Que também eram indicadas
Pra evitar raquitismo

Pequenino era cuidado
Pra não “afundar a moleira”
Quando tava mais grandinho
Era não pegar papeira

Carecia todo cuidado
Com “inspiela caída”
Atacando uma criança
Era doença temida

Crianças naquela época
Mamavam até andar
Era alimentação sadia
E mais fácil de usar

Teve uma que mamou
Até saber soletrar
Deu um trabalho danado
Para poder “apartar”

Os “bruguelos” nascendo
Eram logo batizados
Costume que herdou
Dos seus antepassados

Como católica que era
Ensinou  cedo a orar
Rezar o terço diário
Era costume salutar

Quanto mais trabalhava
Mais coisa tinha afazer
Quando não era cozinha
Era roupa pra coser

Na máquina todos sabem
Era muito habilidosa
Costurava e bordava
De maneira caprichosa

Ainda supervisionava
O rango dos operários
Como podem observar
Os afazeres eram vários

ZédoLino


sábado, 3 de março de 2012

2º DOMINGO DA QUARESMA

04.03.2012 – Mc 9,2-10

A
 primeira leitura mostra, na pessoa de Abraão, o lugar absolutamente central, que Deus deve ocupar na existência do homem. Deus é o valor máximo, a prioridade fundamental.

Para Abraão, Ele está para além de si próprio, de sua família, de seus projetos, de suas aspirações, de seus interesses.

A Quaresma é um tempo sugestivo para rever nossas prioridades.

A Liturgia de hoje nos deixa a lição da confiança em Deus, mesmo quando tudo se revela estranho e incompreensível.

Paulo esclarece que a razão da esperança está na certeza de que Deus ama todos os seus filhos com um amor imenso e eterno. A prova máxima desse amor imenso foi revelada em Jesus Cristo. Assim sendo, o cristão deve levar a vida com serenidade e esperança, confiando totalmente no amor de Deus, de modo especial nos momentos de crise, desilusão, orfandade, quando parece que tudo e todos estão contra nós.

A narração da Transfiguração é uma Teofania (uma manifestação de Deus). Não é um relato fotográfico, mas uma catequese destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus.

A Transfiguração grita do alto do monte para o cristão: não desanime, mesmo que tenhamos que passar pela cruz, a glória de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.

Anaíres Lino



sexta-feira, 2 de março de 2012

Idoso sim.... e daí!

C
hegava eu pela enésima vez da rua quando ouvi do porteiro: "D. Ana, a senhora trabalha muito, mas tem que ser, depois de ''certa idade'' não se pode parar. Sorri e subi com minhas sacolas e agora carregando a ''certa idade'' seja lá o que isto significa.

E interessante como rotulamos tudo, as coisas têm que ter nome e definição, parece que com um nome tudo fica mais fácil de enfrentar.

Quando passamos dos sessenta anos, mergulhamos na terceira idade, idade feliz, certa idade, preferenciais e não somos apenas e simplesmente idosos como são as crianças, os jovens, os maduros.
Parece que se tem medo de magoar, do idoso se sentir indigente, imprestável, sem mais condições de criar, de viver e bem.

E não e nada disso, é uma idade como outra qualquer, com limitações como as têm as crianças, os jovens, etc. Às vezes calculamos mal e caímos, damos cabeçadas como qualquer um, mas é tão bom não se preocupar com nada, com os farelos que caem quando comemos, dos esquecimentos, da vontade boba de contar piada velha, de cantar coisas que só você conhece, de rir de bobagem. É isto que esperam de nós, não sabem quanto é bom esta despreocupação.

Na esquina de uma movimentada rua de Ipanema, ao fim do dia, um senhor chega com seu banquinho e seu piston e passa horas tocando. Não é nenhum virtuose, mas consegue emocionar, distrair. As músicas são antigas, de filmes, lindas. Muitas vezes fico fazendo hora na banca de revistas para ouvi-lo mais. Ele não está preocupado com a idade. Ás vezes nem com as notas musicais, apenas em dividir com as pessoas o seu talento, quer apenas que as pessoas se desliguem dos problemas, das preocupações e de uma maneira singela e doce.

A vida é assim, como um rio às vezes cachoeira, correnteza, remanso, mas isto não impede que as águas pintem de cores, música e paz suas margens. E como uma brincadeira de roda, numa troca de energia, de força física, emocional e mental... Como irmãos... Juntos no coração e mente... E cada um na sua...

Ana Lucia Lino

quinta-feira, 1 de março de 2012

Tudo é uma questão de seguir.


D
ois grandes discursos são ouvidos e desenvolvidos em nossas assembleias eclesiásticas.

O primeiro, o que provoca mais entusiasmo por parte das pessoas, tem um enfoque conservador e é bastante tradicionalista, gerando emoções em seus seguidores. Normalmente, com grandes concentrações. Estes têm em Jesus Cristo um Senhor dos milagres e suas alocuções são moralistas e de certa forma sem conexão com a vida real.

Dessa forma, tendem a surgir, nesse meio, cristãos ingênuos e com pouca base para dialogar com os problemas de seu tempo, pois a valorização está centrada unicamente nos cultos e, assim, terminam sendo meros participantes de atos litúrgicos.

No outro enfoque que é apresentado, a força se concentra nas homilias e no testemunho de suas ações. Procuram levar os cristãos a se aproximarem mais e mais do Reino de Deus, ensinando seus seguidores a abraçarem os verdadeiros caminhos de Jesus, ou como dizem, ensinando a seguir os caminhos do verdadeiro Jesus.

Assim sendo, mostra que o Cristo está com os pobres, com os pobres de coração, com os humildes, com os descamisados, com os que moram de forma estranha – os estrangeiros das favelas. Que Cristo está com os que têm fome de alimento e justiça, com os que vivem nas prisões e com aqueles que aprisionamos com nossa cobiça de ter sempre mais, e, sobretudo, que Cristo está com quem ama e sabe amar.

Em resumo: uns, são palavras e outros, são atitudes. Uns se apropriam por certo tempo, outros conquistam para sempre.