segunda-feira, 26 de março de 2012

A CASA 207

E
stava devendo esta recordação.

Esta casa de estilo antigo, como era a maioria naquela época, herança da época colonial, ficava localizada ao lado poente, na rua XV de Novembro, em Baturité. À tarde, a gente recebia o sol na cara, mas era acolhedora.

Era uma habitação com uma porta e duas janelas de frente. Na entrada tinha uma saleta que à noite se transformava em quarto. Ao lado, uma sala que, pelo costume da época, se denominava “sala de visita”, decorada  (gostaram da palavra?) com umas cadeiras de madeira, com assento de palhinha.

Eram os únicos vãos forrados com pano caiado. Seguia um corredor, tendo ao lado os dois quartos. Um do casal e o outro das senhoritas juramentadas. Os homens e a miuçalha se espalhavam pelo resta da casa. Seguia a grande sala de jantar e ao lado uma enorme dispensa (não sei pra que), que era transformada em quarto de empregada.  Vinha a cozinha com um fogão de lenha e um forno de assar bolo, que nunca foi utilizado.  Uma área ao lado, um pequeno quintal e, finalmente,  o banheiro e a  sentina  (o nome na época era este).

A esquerda tinha como vizinho o Sr. Salomão, casado, sem filho.  Adotava um garoto de nome Carlos. Era dono de um caminhão marca Fargo que fazia transporte de mercadoria para a vizinhança. À direita era um casarão que permanecia sempre de portas serradas. Nele morava o Sr. Pedro Torres, que tinha uma criada de nome Maria Pretinha, de boa reputação, prestativa e de humildade franciscana.

O Sr. Pedro era alcunhado de  Pedroca. Homem sério, honesto e educado. Trabalhava no Banco Comercial como contador (naquele tempo conhecido como Guarda-Livros). Foi o primeiro “namorado” da Anjoca  (romance que  mamãe não aprovava pela diferença de idade), mas o negócio “rolou” por algum tempo. Nossa família  indo morar em Fortaleza o romance se desfez. Seu Pedroca morreu ainda novo, solteiro. Maria Pretinha mudou-se para Fortaleza, casou e constituiu numerosa família.

Este casarão nos deu abrigo por duas décadas, onde ainda hoje a ternura se esconde em cada canto e as saudades afluem a cada passo,  guardando tantas histórias como esta, que numa verve inspiradora juntaria em um romance. São recordações que se não se arrancam como tiririca e nem vira sucata em nossa memória. O tempo vai passando e elas vão ficando, ora machucando, ora nos dando alegria de vivenciá-las.

São pessoas e  coisas inesquecíveis.


ZédoLino

Nenhum comentário:

Postar um comentário