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hiltach é uma cidade de uns 30 mil habitantes, contornada por dois rios,
com lindas pontes, muito arborizada, quase sem carros que param ao menor
movimento do pedestre de atravessar a rua.
Há um século atrás foi quase totalmente destruída por fogo e reconstruída
com fidelidade pelos próprios moradores. Ela se tornou o nosso ponto de apoio
enquanto conhecíamos as cidades vizinhas.
Shiltach me apresentou ao silêncio e a neve. Não imaginava existir o
silêncio absoluto, um lugar em que o silêncio é algo que lhe penetra na
mente e enche a alma. Quando a noite se fazia presente, com três horas de
antecipação, penetrávamos num silêncio que não era quebrado por vozes ou cantos
de pássaros ou som de ventos, tic tac de relógio, barulho de algum
eletrodoméstico, nada absolutamente nada se fazia ouvir. Era só o silêncio nos
oferecendo a oportunidade única de uma meditação profunda, de se colocar mente,
alma e coração em contato com o Pai.
A neve foi outra experiência inesquecível. Como fazia todas as manhãs, saí para tirar fotografias e encontrei a neve, parecia uma poeira delicada, que se deitava suavemente a qualquer obstáculo e ficava ali, se acumulando pintando tudo de branco. Era lindo. Era neve, tão inofensiva se sobrepondo umas às outras até formar uma camada densa, mas flexível que mais tarde se transformava em um bloco sólido quase inquebrantável.
É quase inevitável a comparação com a fé. Acho que a fé é assim: são
pequenos desejos, pequenos atos que no dia a dia vão se juntando até formar um
bloco, que mesmo descongelando aqui e ali num trabalho contínuo, outros
pedaços vão se acrescentando. Tornando mais forte a cada dia.
Neste dia, Deus estava feito criança, se mostrando. Primeiro mostrou a neve caindo pintando tudo de branco, depois Ele mandou o sol e o reflexo de luz naquele branco, enfim, transformou o que era lindo em algo de tirar o fôlego.
Depois veio a neblina. Era difícil dizer o que era mais bonito... era
como se dissesse viu do que sou capaz, como podem não acreditar em mim.
Bom, acho que as outras cidades vão ficar para depois... e as gafes também...
Ana Lucia Lino