quinta-feira, 22 de março de 2012

e agora José...

P
assei o dia tentando ficar invisível, tentando que ninguém percebesse que eu existia, ficar no canto só esperando o tempo passar. Sabe aquelas coisas que você não quer fazer, mas que são inevitáveis, que lhe deixam no dilema entre o dever e a vontade de não mudar a sua vida, sair do seu esquema, o medo de não dar certo, enfrentar problemas... Essas coisas.

Parecia simples dizer um não, ou não aparecer, fingir de morta, olhar de paisagem, qualquer coisa seria válida nas circunstancias... Mas eu queria uma saída honrosa, sem mágoa e sem culpa... Uma solução mágica... Aquela que não existe nem na cabeça de quem não quer se comprometer. Quem sabe uma virose rápida ou uma dor de cabeça com hora para começar e terminar, sei lá... Alguma coisa tinha que acontecer e rápido.

O interessante é que enquanto vivia o drama da indecisão, o mundo não parecia dar à mínima, o elevador continuava subindo e descendo indiferente, os ônibus passando, as pessoas fechadas em si e eu neste emaranhado de fios, ideias, expectativas, mais engessada que árvore em calçada, me sentindo como na canção do Chico ''a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu''.

O tempo passando e eu fazendo tudo no piloto automático, aparentemente tranquila, mas voltando sempre ao mesmo ponto, ao mesmo tema sem solução visível.

Poderia alguém mudar, voltar atrás, eu poderia nem aparecer, mas este bendito senso de dever não ia deixar, ia ficar martelando. Uma topada, isso uma topada, amanhã estaria bem, mas hoje a dor, os analgésicos seriam impedimentos... não, não ia dar certo.

Enfim, chegou a noite, chegou a hora... nada aconteceu... melhor ir a reunião... quem sabe sentando na última cadeira... Nada, nada deu certo... fui eleita síndica... obrigada pelas orações.


Ana Lúcia Lino   

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