SOLEDADE,
uma lição de vida!
S
|
aibamos!
Saibamos nós que ali, naquele
tempo, na SOLEDADE, éramos inofensivamente inocentes, discretamente sábios e
modestamente inteligentes, e nem sabíamos.
Saibam vocês que não sabíamos.
Vivíamos uma vida tranquila e esperançosa.
Brotavam em nós três máximas,
verdadeiras sentenças, que transformadas em regras, nos levavam a uma vida
irresponsavelmente cheia de felicidade.
Primeiramente, éramos todos iguais.
Depois, amávamos uns aos outros.
E finalmente, sabíamos ser guiados
por papai e mamãe.
Mamãe, que sabia adorar a Deus e conhecia
a força da oração, quando não na cozinha nem na máquina de costura, dobrava os
joelhos, numa piedade divina, naquele momento em que contemplava as faces de
madre Mozzarella ou da beata chilena Laura Vicuña.
Educou-nos, nos terços, nas
orações, nas devoções, e no entendimento a responder conscientemente ao chamado
de Deus. Como diz a bíblia, quem tem temor a Deus será sempre galardoado.
Ali, na serra, orientavam-nos,
papai e mamãe, com seus atos, suas maneiras, seus modos de agir bem, pois é
assim, somente assim, agindo bem que se alcançam as boas obras.
À nossa disposição, as mais simples
e suaves delícias, o mel com farinha, alfenim mais branco, a garapa mais doce,
as frutas mais frescas, o feijão verde com mais rapadura, o frio e a chuva.
Ali, com essas delícias, fazíamos
saladas das historias antigas e repetidas.
Tinha dias e dias de muita chuva, clarões
na noite, relâmpagos, trovões. Uma chuvarada sem fim que caia do céu. Eram dias
que permanecíamos juntos no alpendre.
Depois da tempestade, sempre
retornava o sopro suave da brisa que nos enchia de bem querer. O sol voltava. E
em volta do papai era sempre primavera, a paz partilhada, éramos felizes. Ninguém
resistia a sua gargalhada, aquela risada forte e prolongada, um bom humor
inabalável.
Ali, no alpendre, com toda
simplicidade e sabedoria, nós aprendíamos quais caminhos nos levavam a viver em
paz.
Ali, no alpendre, alimentavam em
nós a fortaleza e a alegria de vivermos unidos dentro de nossas diferenças ou
indiferenças.
E nossa casa? Que aconchegante!
No piso superior da grande casa,
quartos, onde dormíamos com a inocência das crianças.
Ao fundo da cozinha, o paiol, que
se escondia por trás do fogão, e nos aquecia quando o colo da mamãe já parecia
ocupado. Os pais, por nosso egoísmo saudável, são feitos para serem repartidos.
Não importa quantos filhos, sempre são tanto quanto seus braços podem abraçar.
Junto à cozinha, a mesa da partilha,
do pão repartido e da comunhão. Dali, saíram legados que se encontram
espalhados nos corações de nossas famílias.
Do engenho, nossos ouvidos eram
inebriados por uma suave música que trazia paz e sossego aos nossos corações,
eram os cantos daqueles que tangiam a junta de boi.
Sob as luzes de lamparinas, nas
noites frias, víamos a mamãe nos enrolando em lençóis finos, que seu carinho
faziam-se edredom.
Estar ali, na Soledade, com papai e
mamãe, era como se sentisse que o amanhã seria melhor, cada momento era sempre
melhor do que o anterior. A isso, hoje damos o nome de esperança.
Dizem que a virtude é o que o torna
bom quem a possui e boa a obra que realiza.
Como sempre vi meus pais como boas
pessoas, hoje, vejo-os cheios de virtude e que seus frutos foram uma boa obra.
Acredito, assim, no que proferem.
A generosidade, própria deles,
generosidade, no sentido de bondade, piedade e beleza, tornou um hábito em suas
vidas. E toda virtude é um hábito.
Ali, onde tudo exalava encanto, nos
acercava o sentimento mais belo que o ser humano pode ter:
O amor!
Faziam eles, papai e mamãe, do
amor, um hábito.
Ali, a gente nem sabia, mas
estávamos bem pertinho do céu.
É isso aí, irmãs e irmãos, procurei
apreender os ensinamentos e a atmosfera que pairava sobre todos nós!
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