sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um dia daqueles...

V
entava e chovia, essa chuva que se guarda e vai se soltando aos pouquinhos e dura horas. Depois de andar alguns metros, esperei para atravessar a rua, do outro lado uma senhora tentava equilibrar nos braços a sombrinha, a criança, a bolsa e a mochila. Tentativa vã, o vento não ajudou.

Enquanto olhava, um taxi passou e dá um banho nas pernas com aquela água fria e suja, até imagino o sorriso jocoso do motorista. Tento rezar por ele, mas só consigo não praguejar.

Compro algumas coisas no mercadinho. Mais na frente uma moça encolhida numa marquise pede dinheiro para tomar café, não tinha, mas ofereci o saquinho de pão de queijo que levava. Recusou, dava azia. Sorrio e sigo.

Tentando desviar das inúmeras poças d'agua, sinto que gotas mais grossas caem na cabeça. Procuro a origem e percebo que são das arvores, que paradas recebem uma quantidade de água impossível de ser absorvidas, mas o fazem de uma maneira linda, sem recusa, como uma missão, sem reclamar, sem achar injusto, cumprindo o plano de Deus.

Fico parada olhando as folhas sem movimento, sem desviar indiferentes a água que escorre pelo tronco, como um destino. É uma lição de vida para mim que reclamo de tudo que não tenho paciência e tolerância.
Lição de aceitação, de confiança, de como se deve viver mesmo com os sonhos interrompidos e os desejos desviados.

Não posso ficar parada na chuva e sigo. Quando chego ao destino estou bastante molhada, mas estou feliz, ouço o Djavan cantando smell. E o que se tem que fazer, sorrir e me lembro da Luiza dizendo, ha muitos anos "sorrir quando o coração sangra e caridade fina". Nunca entendi este tipo de caridade, mas na época achei linda a frase.

Quando sai algumas horas depois,o sol estava lindo, os pássaros cantavam, as folhas estavam enxutas, as arvores pareciam felizes como a dizer que vale a pena esperar, há sempre um amanhã diferente, vale a pena confiar, ter esperança.Viver e isto.

Ana Lucia Lino 


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