quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Aquela mãe

J
á se falou tanto nela. Em prosa, em verso, da sua fibra, da sua generosidade e determinação.

Palavras elogiosas, agradecidas, amorosas, merecidas, insuficientes.

Mergulhando neste oceano de emoções, de afetos, de lembranças, me envolvo como uma gota para mais uma vez explicar, compreender e falar desta grande mulher.

São várias as maneiras em que os fatos são sentidos e guardados. Vez por outra impulsionados pela saudade desdobramos recordações, vivemos situações, sorrimos vida vivida.

São lembranças, pedaços soltos de nossas vidas, da vida desta mulher que é a minha mãe.

Da mãe que se recolhia diariamente na solidão de seu quarto e rezava por cada um de nós. Nunca vi passar um dia sem esta meditação, por maiores que fossem as ocupações. Nada nem ninguém afastavam daquele encontro com o Pai para pedir força e proteção para a grande família a ela confiada.

Aquela mão que atendendo aos nossos gritos mata com chineladas uma meia inerte confundida com um rato. E riu disto.

Aquela mãe que sabia tudo de trabalho manual desde um simples bico de crochê a uma tarrafa de pesca. Tudo com perfeição incomparável e com uma simplicidade que parecia natural saber tanto.

Aquela mãe que antes de dormir, como um anjo, olhava a todos, cobrindo, ajeitando, fazendo carinho em cada um de nós. Só me lembro de uma exceção: foi uma destas que abortou com uma chinelada e corrigiu para sempre a mania preguiçosa de molhar a rede.

Aquela mãe que na cozinha ficava atormentada e só conseguia fazer bem o doce de banana em rodelinhas, o bife “encalcadinho” e o pudim de leite, todo o resto era um pouco mais que comível.

Aquela mãe por quem rezava em todas as igrejas pedindo vida longa, pelo medo das benditas “lágrimas de sangue”.

Aquela mãe que mastigava casquinha de laranja para minorar os enjôos da gravidez, gesto que eu repeti quando esperava seus netos.

É esta mãe que hoje, aparentemente ausente, nos dá segurança e aconchego como um porto, como uma estrela. Que continua perto, nos amando, nos sorrindo com os olhos e nos abraçando com o coração.

Ana Lúcia Lino


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